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Lendas e mitos

As sombras vivas que vagueiam na mente da humanidade

Publicado

Autor/Imagem:
Paulus Bakokebas - Foto Editoria de Artes/IA

Há histórias que não pertencem a nenhum livro, nenhum altar, nenhum povo específico — e, ainda assim, parecem acompanhar toda a humanidade como sombras antigas. São lendas, mitos, arquétipos primordiais que se movem silenciosamente dentro da mente humana, surgindo nos sonhos, nas narrativas populares, nas religiões e até na ciência que tenta explicá-los. Eles não moram no mundo externo: residem no interior, no terreno profundo onde razão e mistério se abraçam.

O mito não é uma invenção: é uma manifestação. Ele brota de um lugar primordial, ancestral, onde a mente humana tenta dialogar com aquilo que não compreende — o tempo, a morte, a origem do mundo, o sentido da existência. Cada lenda é um esforço de tradução do indizível.

É por isso que tantas culturas distantes criaram histórias semelhantes:

  • deuses que sopram vida na matéria,

  • heróis que descem ao submundo,

  • criaturas que vigiam a noite,

  • espíritos que caminham entre os vivos.

Não é coincidência. É convergência. A alma humana, no seu silêncio comum, tenta responder às mesmas perguntas desde o início dos tempos.

Os mitos surgem quando o mundo se mostra grande demais. Para os egípcios, o sol era um deus navegando num barco pela imensidão. Para os gregos, a luz era o gesto de uma deusa. Para os povos indígenas, a noite é o manto deixado pelo criador. Cada narrativa, embora distinta, exerce a mesma função: organizar o caos aparente, oferecer sentido onde antes havia apenas vastidão.

Mesmo hoje — com ciência, satélites, telescópios e data centers — continuamos a criar mitos. Eles apenas mudam de forma.

A inteligência artificial, o extraterrestre, o fantasma digital, o apocalipse tecnológico… todos são mitos modernos, impregnados das angústias da nossa era.

Os mitos mais persistentes são os que abraçam o medo. O medo é o berço fértil do imaginário. Nele nascem:

  • os trolls das montanhas, ecoando nossa desconfiança das sombras;

  • os lobisomens, reflexo da nossa animalidade reprimida;

  • as sereias, espelho do desejo e do perigo;

  • os demônios, materialização das batalhas internas;

  • os anjos, símbolos de nossa ânsia por proteção e transcendência.

Cada criatura mítica é um fragmento da psique humana projetado no mundo externo. O mito é o espelho mais antigo da humanidade.

Toda lenda clássica — seja ela grega, nórdica, africana ou indígena — contém um rito iniciático. O herói parte, perde-se, morre simbolicamente e retorna transformado. Trata-se de um ciclo arquetípico, um modelo espiritual que ainda ecoa em nossas narrativas contemporâneas.

Assim como o herói mítico desce à escuridão, nós descemos às nossas próprias cavernas psicológicas. E, como ele, buscamos retornar com um fragmento de sabedoria.

Por isso dizemos que o mito é uma jornada interna disfarçada de saga externa.

É válido observar que engana-se quem imagina que os mitos pertencem ao passado. Hoje, eles se manifestam em:

  • teorias conspiratórias,

  • rumores sobrenaturais urbanos,

  • narrativas de contatos alienígenas,

  • símbolos digitais que ganham vida própria.

Mesmo sem perceber, continuamos a alimentar as mesmas estruturas arquetípicas. A forma muda; a essência é eterna.

Mas, por que os mitos sobrevivem? Talvez porque respondem àquilo que a razão não alcança. Porque alimentam o mistério que nos mantém humanos. Porque organizam o invisível. E, sobretudo, porque o mito não vive apenas nas histórias — vive em nós.

Enquanto houver espanto, haverá lenda. Enquanto houver silêncio, haverá mito. Enquanto houver humanidade, o imaginário continuará vagueando como um vento antigo dentro da mente, sussurrando perguntas para as quais jamais teremos respostas definitivas.

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