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Caso encerrado

Assassino de dona de pastelaria morre de diarreia

Publicado

Autor/Imagem:
Arthur Claro - Foto Acervo Pessoal

Mal pisei na delegacia, o delegado Antunes, com aquela costumeira cara de buldogue velho, me chamou no canto.

– Cardoso, descubra onde está o filho da puta que matou a Clarice.

– Clarice? A dona da pastelaria da esquina?

– Por acaso conhece outra?

– Não, mas não sabia que ela foi assassinada. Aliás, conheço, sim, outra Clarice.

– Qual outra Clarice você conhece, seu mentecapto?

– A escritora Clarice Lispector.

– Pare de gozação e vá atrás do paradeiro do namorado da Clarice.

Apanhei meu guarda-chuva, um pequeno caderno onde faço anotações e uma caneta. Voltei para a rua e fui direto para a pastelaria. Ao atravessar, vi algo que me chamou a atenção: um outdoor de propaganda de lingeries. Isso me fez ligar para o delegado.

– Cardoso, o que foi agora?

– É que eu queria saber como você sabe que o namorado da Clarice é pagodeiro?

– Como assim?

– Você falou pra eu ir atrás do pagodeiro do namorado da Clarice.

– Não falei nada disso, falei para você ir atrás do paradeiro, o local onde pode estar o maldito.

– Ah, tá! Estou indo até a pastelaria da esquina ver se encontro algumas pistas. Quer que eu pegue algum pastel?

– Não, seu imbecil! Não quero nenhuma porra de pastel! Só quero que você volte à delegacia com alguma resposta sobre o paradeiro do filho da puta. Paradeiro!!!

Desliguei o celular adentrando a pastelaria. O local estava bem organizado, nem parecia ter havido um crime ali. Fui até o balcão, onde estava Giovanna, filha mais velha de Clarice. Ela sorriu mostrando seus belos dentes brancos, retribuí não mostrando os meus dentes amarelados de cigarro. Quando fui questioná-la sobre o ocorrido, ela me disse que o crime havia ocorrido na casa da sua mãe, que ficava a duas quadras de onde estávamos. Agradeci e fui até a residência da vítima.

Quando cheguei, encontrei a porta de madeira em pedaços, a janela de vidro com um enorme buraco. Entrei olhando todos os detalhes possíveis e imagináveis da sala, tirei algumas fotos com o meu celular, fui para os outros cômodos e repeti os procedimentos.

Anotei algumas coisas no caderninho, não encontrei nenhuma pista de onde poderia estar o namorado da Clarice. No entanto, quando eu estava saindo do banheiro, fui interpelado por um policial, que havia acabado de chegar. Eu o conhecia de vista, mas não sabia seu nome, já que ele era lotado em outra delegacia. Eu me apresentei e, então, soube que seu nome era Souza.

Há anos nesse ramo, sei que existe muita rivalidade entre policiais. Entretanto, Souza me mostrou uma fotografia do suspeito, bem como disse que seu nome era Juvenal. Ele também me falou que o delegado Gonzaga há tempos estava atrás de Juvenal, que era um perigoso traficante de entorpecentes. Agradeci pelas informações e nos despedimos amigavelmente.

Assim que saio da residência da defunta, eis que passa na rua um carro tocando uma música, que eu até agora me pergunto se foi coincidência ou galhofa da mente do escritor deste conto, pois estava tocando a música Inaraí do Katinguelê. Segurei o riso, olhei para o policial Souza, que já estava entrando na viatura e parti.

Perambulei pelo bairro por quase duas horas, mas nenhuma pista. Senti a bexiga estourando. Nisso, entrei no boteco do Bigode e fui ao banheiro. Quando coloquei o meu amigo para fora, eis que comecei a ouvir alguns sons intestinais vindos logo atrás. Virei o rosto e, então, constatei que, apesar da porta fechada, que havia alguém sentado no vaso. Os sons eram de uma diarreia digna dos filmes mais escatológicos.

Curioso pra ver a cara do artista, prendi a respiração para não me sufocar com aquele fedor. De repente, a porta se abriu e, então, o improvável aconteceu. O dono daqueles peidos era justamente Juvenal, o namorado da pobre Clarice. O sujeito, depois de fazer tanta força para expelir o conteúdo das tripas, acabou tendo um infarto e caiu duro na cerâmica fria do banheiro.

Não consegui acreditar na sorte grande. Sem tempo para pensar em bobagens, saquei meu celular e liguei para o delegado Antunes.

– Doutor, caso resolvido. Encontrei o cagão!

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