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Assédio sexual cresce a olhos vistos, mulheres denunciam e dizem por aí que é mimimi

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Layla Andrade

Você sabe o que é assédio? Não?! Então vamos lá, começando pela definição do psicanalista Marcelo de Almeida: “É toda e qualquer conduta abusiva, como gestos, palavras, escritos, comportamentos e atitudes que intencionalmente firam a dignidade e a integridade física ou psíquica de uma pessoa”.

Agora um complemento – os assédios vão além do ambiente de trabalho; eles também são frequentes em nosso cotidiano, seja nas ruas, em casa ou até mesmo no ambiente virtual. Não é, portanto, nenhum mimimi como apregoam os machistas.

A situação chegou a tal ponto, que a Central de Atendimento à Mulher, registrou somente no último semestre de 2015, mais de 32 mil 200 relatos de violência contra o sexo feminino. A lista é grande, incluindo agressão sexual, física, moral e psicológica.

Para quem mora em Brasília, um dado triste: a capital da República – entendido o Distrito Federal como um todo –, tem a maior taxa de denúncias de violência pelo Ligue 180. A média é de 60 relatos para cada grupo de 100 mil mulheres, seguido de Pernambuco, que tem pouco mais da metade das ocorrências brasilienses. São 35 casos para cada 100 mil mulheres.

Didaticamente, vale lembrar que existem dois tipos clássicos de assédio no ambiente de trabalho – por chantagem e por intimidação. No primeiro caso, a vítima tem que provar que foi coagida e que houve conjunção carnal. Para caracterizá-lo é preciso ainda que o ato tenha sido praticado por um superior hierárquico. No segundo tipo de assédio, não é necessário haver ameaça, pode ser um simples galanteio, uma cantada, uma brincadeira de mau gosto.

Já quando se fala em violência doméstica, os tipos mais comuns são violência física, como socos, chutes e, em menor caso (3%), até a morte. Violência psicológica são as agressões verbais, xingamentos, humilhação, ciúmes exagerados, falta de respeito, ameaças e outras formas. Por fim, a violência moral, como constrangimento em público, difamação, calúnia, etc.

Vítimas jovens – Se engana quem pensa que o assédio acontece com poucas pessoas ou somente com mulheres adultas. Notibras tomou conhecimento de alguns relatos, transcritos a seguir. Os nomes são fictícios, para preservar a identidade das vítimas.

Luana* mora em Brasília, é modelo, e tem 16 anos. Ela conta que “começou a namorar um cantor, e logo percebeu que era usuário de drogas”. Mas só depois de um tempo, começou a sofrer agressões físicas e psicológicas. Após denunciar o companheiro no ano passado, ela passou a ser protegida pela Lei Maria da Penha.

Um caso de assédio sexual no trabalho foi denunciado por Júlia*, também moradora de Brasília. Ela é estudante de Direito, e tem 19 anos. “Estava estagiando em um escritório de advocacia, e o advogado me assediava quando estávamos juntos. Tudo começou com ele passando a mão em mim, quando eu estava na mesma sala que ele. Todos os dias ele insistia muito para que a gente tivesse algo, ele me seguia na rua. Então decidi sair do escritório”, relata.

Já o caso de Maria Fernanda*, ela resolveu denunciar o namorado após ter sofrido agressões por dois anos e meio. Mas a experiência que teve na delegacia a traumatizou. “Vocês vêm aqui todo dia por causa dessas ‘coisas de mulher’ e depois tudo fica bem”, foi a primeira coisa que o delegado disse ao ouvir o início do depoimento de Maria Fernanda – e ele passou meia hora seguinte fazendo de tudo para convencê-la de que seria um erro denunciar o namorado agressor. “Eles tentam de todas as formas fazer você desistir. No meu caso, conseguiram. Saí de lá humilhada”.

O psicanalista Marcelo de Almeida ainda expõe que casos como esses afetam o psicológico das mulheres e trazem, inconscientemente, magoas que nem elas mesmas compreendem. “Com a sequência do trabalho psicanalítico, fazemos com que elas despertem, por meio de insights, mostrando-as que suas atuais aflições não passam de eclosões vindas do passado. Geralmente as que sofreram violência por parte de seu ex-namorado têm enormes dificuldades em se envolver com novos relacionamentos amorosos”, esclarece.

Experiências como a de Maria Fernanda fizeram com que muitas mulheres vítimas de violência preferissem permanecer caladas. Segundo uma pesquisa DataSenado de 2013, 20,7% das mulheres que admitiram ter sofrido violência doméstica nunca procuraram a polícia. Para amenizar esse problema, o governo federal lançou o programa “Mulher, Viver Sem Violência”.

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