Risíveis amores em quatro atos (II)
Ato-2: NADA DE PIADAS…E NUNCA RIA!
Publicado
em
Após a decepção com o término do noivado com Cynthia, JC foi buscar consolo com o amigo Marco Antônio, gay e solteiro convicto.
— Poxa, Marco, eu tava há dois metros do gol, o goleiro caído, mas aí a bola quicou e foi para fora…nunca mais vai aparecer outra chance como essa, lamentou-se JC.
— Calma, meu amigo Júlio! Essas oportunidades de gol para solteiros são como vagões do metrô, você perde um e logo em seguida vem outro.
— Oxalá, tomara que você esteja certo… porque essa doeu.
— Vou te apresentar uma amiga, ela é advogada, uma linda e charmosa oriental. Você curte?
— Oriental? Você tá brincando? Sou fissurado por orientais!
— Então ótimo! Ela se separou recentemente e está aberta a uma nova relação, mas uma dica: ela não admite mentiras… mentiu para ela, dançou!
— Bom saber, serei um católico praticante no confessionário, jogo cem por cento aberto!
— Só mais uma coisa, ela gosta de ir a um primeiro encontro acompanhada da melhor amiga. Convide um amigo solteiro para fechar o quarteto.
— Hum…quem poderia ser? Você não curte o outro gênero, brincou JC. Ah, já sei, o Jeremias também está solteiro. Ele vai quebrar o meu galho.
Preocupado, M. A. coçou cabeça, como se antevisse problemas com a escolha de JC.
-Pode ser, todavia, mais um conselho: peça para o Jeremias não bancar o showman, senão você pode perder a Yuki para ele. Ele fica irresistível para as mulheres quando começa a contar histórias espirituosas.
Ao convidar Jeremias – o cômico – para o encontro, JC não economizou na advertência do amigo:
— Então não esqueça, nada de piadas… e não ria nunca!
Na noite do jantar, os dois amigos e as duas amigas pareciam ter dado match entre si. Conversa agradável, muitas afinidades, simpatias aflorando ao natural.
JC estava encantado com a beleza, graça, cultura e inteligência de Yuki, “que mulher”, ruminava em pensamentos intermitentes.
Jeremias cumpriu à risca a recomendação do amigo e mostrou-se bastante circunspecto e sério todo o tempo do encontro.
Observando essa característica do amigo do seu par, Yuki não hesitou em perguntar:
— Você nunca ri, Jeremias?—-Nunca, enquanto houver sofrimento, opressão e injustiças nesse mundo, não consigo sentir prazer em fazer isso, respondeu filosoficamente, Jeremias.
—Entendo, replicou Yuki, aparentando admiração.
Após as despedidas, os cavalheiros foram levar as respectivas damas para as suas moradas.
JC estava eufórico com a companhia de Yuki, mas, para sua surpresa, sincerona raiz, repentinamente ela cravou:
— Olha, eu confesso que fiquei atraída pelo seu amigo. Ele me impressionou muito com o jeito de ser dele… admirável essa postura de não rir de nada em solidariedade aos nossos semelhantes que sofrem.
-Ah, fui eu que meti ele nessa roupagem… o Jeremias é um pândego e ri até dos desenhos do Pernalonga durante a madrugada.
— O quê? Ele estava fazendo tipo? E foi você que pediu para ele representar uma farsa?
— Pois é…sabe como é, foi uma ideia para não haver linhas cruzadas entre nós três.
Com uma cara mais fechada do que agência bancária em final de semana, assim que o Gol de JC estacionou em frente ao seu prédio, Yuki rosnou antes de sair do veículo:
— Não me procure mais, por favor!
— Mas, Yuki, se você gosta de homens problemáticos, depressivos, sorumbáticos e revoltados com o mundo, eu sou a peça original…eu tenho tudo!
Yuki voltou-se, fuzilou o pretendente com o olhar e, em seguida, apressou o passo rumo à porta do seu prédio.
Com o coração desconsolado e a mente em revolta, JC pensou alto:
— Essa o Marco ainda vai me pagar!
O momento de JC dizia que era melhor culpar o zeloso amigo do que assumir que era um fracasso no papel de Don Juan.
…………………………………………
O terceiro ato deste folhetim será publicado no sábado, 11.