Corporativismo nocivo
Banda podre da política quer fazer do Brasil a Casa da Mãe Joana
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Há um ditado poético que diz que, de vez em quando, precisamos sacudir a árvore das amizades para que caiam as podres. Deveríamos fazer isso a cada eleição municipal ou geral. Em português mais lógico, a cada dois e quatro anos. Como raramente nos dispomos a enfrentar a realidade, hoje pagamos todos pela inconsciência política de alguns. O resultado é que, com a anuência de boa parte do eleitorado, o crime organizado se infiltrou na política e dela não quer mais sair. É o lado podre da árvore que a sociedade sempre imaginou sadia.
Poderíamos chamar de resiliência nossa incapacidade de reação à proteção que a rede política dá ao crime? Sempre soube que a omissão mata. Em alguns casos, ela gera situações irreversíveis. O crime está organizado desde os tempos do império, mais precisamente desde 22 de abril de 1500. No entanto, os políticos só descobriram isso agora. Tanto que, demagogicamente, estão tentando mostrar à população que querem combatê-lo. É claro que não.
Por razões óbvias de inconstitucionalidade, a bancada bolsonarista na Câmara não conseguiu aprovar a PEC que livraria deputados e senadores de processos criminais. A ordem era evitar a qualquer custo a abertura de ações penais e restringir a prisão em flagrante de parlamentares a apenas a crimes inafiançáveis. Ou seja, para os chamados homens públicos a imunidade tem de ser sempre entendida como impunidade. Azar de quem pensa o contrário.
E assim vamos caminhando até que a Câmara e o Senado transformem o Brasil, de fato e de direito, na Casa de Mãe Joana. Considerando que o corporativismo nocivo e criminoso dos congressistas gerou a orfandade plena e absoluta da população, podemos concluir que vivemos a plenitude da Lei de Murphy. Criada pelo engenheiro aeroespacial norte-americano, Edward Murphy, a norma diz que se algo pode dar errado, dará. Teria sido a lei feita para o Brasil? Provavelmente!
Embora parte da sociedade ignore, somos todos responsáveis pela sucessão de erros políticos do país, no qual o debate sobre segurança pública é travado somente por quem enxerga votos onde há vidas. Quem ainda se lembra da recente carnificina nas comunidades da Penha e do Complexo do Alemão? Acho que poucos. Se já não foram, em breve os 121 cadáveres da chacina determinada pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, serão esquecidos.
Mantido o atual quadro de letargia e de inconsciência eleitoral, certamente jamais nos esqueceremos do exemplo dos maus políticos. E eles são muitos. E eles estão bem à nossa frente. Repetindo o que alguém já disse, antigamente os cartazes nas ruas com rostos de criminosos ofereciam recompensas. Hoje em dia pedem votos. O pior é que eles acabam convencendo os que optam pela omissão. A esses, o que posso dizer é que, vinculados ao crime ou à política, os líderes de facção gozam de vidas nababescas, normalmente à custa do suor dos que são impedidos de resistir.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978