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Baratas invadem delegacias, presos fogem da Papuda e polícia civil entra em crise

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Felipe Meirelles

Está difícil acabar com a casta que dominou a Polícia Civil do Distrito Federal por longos anos. É o que se deduz de desabafo da diretoria do Sinpol, entidade que congrega os policiais civis de Brasília. Grupos políticos de fora da entidade usam de métodos mesquinhos para desestabilizar os representantes da categoria. E, para piorar, até o diretor-geral da Polícia Civil, Éric Seba, começa a mostrar sua cartucheira aberta, manifestando a grupos próximos que está na hora de tomar o Sinpol das mãos do grupo dirigido por Rodrigo Franco Gaúcho.

O inconformismo do Sinpol foi sinalizado na na sexta, 19, com o fracasso de uma audiência pública ocorrida na Câmara Legislativa. Naquele dia, dizem dirigentes do sindicato, “ficou bem claro que setores da PCDF trabalham em consonância para enfraquecer o Sinpol”. Enquanto isso – é a triste realidade – a instituição tropeça com baixo contingente e os próprios policiais são obrigados a dividir espaço nas delegacias com ratos, baratas e mosquitos que provocam dengue, Zika e outros males.

O clima de tensão iniciado na sexta-feira ganhou corpo na noite de domingo, 21, com um manifesto assinado pelo Sinpol. É como se a polícia civil de Brasília vivesse uma verdadeira guerra interna. A situação chegou a tal ponto que o delegado Mauro Cézar, que dirige o sistema penitenciário da Papuda, soltou a voz e condenou a falta de apoio do comando geral da Polícia para recapturar os 10 criminosos que fugiram da Papuda na madrugada de sábado para domingo.

Ouça o áudio de Mauro Cézar:

Leia trechos da nota do Sinpol:

Salários – Desde a criação dos grupos de auxílio moradia, que servem muito mais para atacar a atual gestão sindical, percebemos a intenção de mudar o foco da discussão salarial para o referido auxílio, deixando-se as negociações com o governo federal em segundo ou terceiro plano. Os mantras e a lavagem cerebral ocorridos lá querem fazer remeter nossa salvação a um grupo que todos conhecemos. Além disso, os grupos servem muito mais para atacar a diretoria atual do que para realmente unir a categoria. Lá, apenas se fala em união. Mas a todo momento, se prega a desunião, a desagregação. O maior objetivo dos grupos é denegrir e enfraquecer o Sinpol. Na reunião de sexta, ficou mais clara a participação de outros mentores desse projeto. O Diretor Geral e a diretoria do Sindepo também apareceram para reforçar o coro. Não que antes já não estivessem participando. Agora tudo ficou mais “transparente”. Seus discursos direcionam a categoria no mesmo sentido do mantra “é agora ou nunca”.

Ingerência – O Diretor Geral, por incrível que isso possa parecer, resolveu participar da campanha para as próximas eleições sindicais. Já lançou até mensagens criticando a atual gestão. Um diretor geral propor-se a influenciar no pleito ao Sinpol, além de inédito, é inadequado, uma vez que a escolha cabe única e exclusivamente a carreira policial civil. Permitir que um dirigente do Estado influencie o processo é voltar ao passado, quando o sindicato fazia parte do governo. É importante ressaltar que tal intromissão poderá trazer consequências danosas para o seio de nossa categoria, principalmente com o aumento do já existente assédio moral, um risco evidente. Frise-se que, nesse caso, estamos falando do diretor e não da direção geral, que possui diversas outras pessoas que se esforçam para atender os anseios da categoria e receber o sindicato a qualquer hora. Diversos dirigentes e delegados são receptivos com os diretores do Sinpol/DF e tentam atender nossas demandas apesar de todas as dificuldades. Entretanto, quanto ao diretor, quando se trata do Sinpol/DF, é clara a resistência em nos receber. Mais difícil ainda atender nossos pleitos, que são os da categoria. Já encaminhamos pelo menos 30 ofícios e praticamente nenhum foi respondido ou, pior, atendido.

Embromação – Sempre que fala em público, o diretor gosta de frisar seu bom relacionamento com antigos dirigentes e diz que qualquer cana pode lhe procurar em seu gabinete. Sabemos que antigos dirigentes tem acesso livre ao gabinete do 01. Nada temos com isso. Mas ao recusar dialogar com o sindicato, toda a categoria sai prejudicada. Vimos denunciando essa intolerância já há algum tempo, inclusive ao Governo do Distrito Federal. Da mesma forma, a diretoria do Sindepo não esconde a sua predileção pelos ex-diretores. O convívio ao longo dos anos permitiu o estreitamento de laços de amizades. Também não temos nada com isso. Mas a dificuldade em aceitar o resultado das urnas da ultima eleição tem prejudicado o diálogo com o Sinpol. Também sabemos que , ao contrário de nós, o Sindepo tem livre acesso ao gabinete do 3º andar do Dubai. E tratamento diferenciado entre as carreiras foi um dos motivos pelos quais a atual gestão sindical lançou-se chapa dois anos atrás.

Rasteira – Na audiência publica do auxílio moradia percebemos, durante seu desenrolar, que alguma estratégia havia sido combinada, sem o conhecimento do Sinpol. Ela foi apresentada ao final: criar uma comissão composta pelas associações e entidades, além, de dois representantes do auxílio moradia. Um deles foi aclamado na mesma hora e trata-se de um diretor da Feipol e candidato derrotado em último lugar nas eleições ao Sinpol. Lógico que a proposta visa enfraquecer a representatividade do legítimo representante da categoria e aquele que deve negociar todas sua pauta de reivindicações, como já vem fazendo. Em segunda mão, o Diretor Geral e o Sindepo pretendem, ao contrário do que decidiu a categoria policial, dar representatividade a chapa que foi vencida nas eleições ao Sinpol. Em terceiro lugar, o DG e o Sindepo, pretendem dar legitimidade a Feipol, uma federação que nunca  fez nada pelos policiais a não ser receber montanhas de dinheiro. Ora, o Sinpol desfiliou-se dessa federação em meados de 2014, por decisão unânime de uma uma assembleia geral lotada. A Feipol abriga quase toda a ex-diretoria e, salvo engano, o próprio deputado Welington Luis. E é justamente a essas pessoas que os mentores do acordo pretendem dar voz. Ao fazerem isso, tanto o DG quanto o Sindepo demonstram total desprezo pelas decisões soberanas da categoria, tanto nas eleições, quanto nas assembleias.

Politicagem – Percebemos que tanto o DG, quanto o Sindepo e as pessoas ligadas ao deputado WL (Welington Luiz, do PMDB) estão direcionando a categoria no sentido inverso à isonomia histórica e legal com a PF, ao priorizar, nesse momento, o auxílio. Tudo isso, no nosso entender, muito mais para garantir sobrevida ao grupo derrotado nas urnas em 2014 do que para garantir recuperação de perdas salariais, de forma mais segura,  para todos, principalmente os aposentados. De nossa parte, queremos deixar claro que não somos apegados a cargos. Prova disso foi nossa proposta de reforma no estatuto que prevê apenas uma única reeleição. Também não nos importa quem seja “o pai da criança”, o que nos importa é que toda a categoria seja atendida em seus pleitos. Importante é que interesses individuais ou de grupos não sejam priorizados em detrimento de todos os policiais civis.

Aposentados – Quanto às negociações queremos trazer algumas preocupações que não são somente nossas, mas de diversos colegas que nos procuram diariamente. Há grandes dúvidas quanto à aplicação do AM – e não nos referimos à Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta pelo MP. Vários colegas têm o temor de que não seja estendido aos aposentados, mesmo com todo o nosso esforço para incluí-los. Hoje, juízes e promotores aposentados não recebem tal vantagem. O próprio desembargador aposentado Smaniotto provavelmente não seja contemplando com o benefício. Somos servidores civis, regidos por legislação específica. Bombeiros e policiais militares, quando completam o tempo de serviço, vão para a reserva remunerada e podem ser convocados a qualquer tempo. Além disso, todos sabemos que o Governo pretende modificar a aposentadoria. Para isso cogita a adoção de vantagens como forma de garantir que o servidor fique mais tempo dependente dos auxílios e gratificações. É o que ocorre hoje com o abono permanência e gratificações de chefia. Por necessidade e para não perder poder aquisitivo no momento da aposentação, o servidor acaba tendo que trabalhar mais tempo, uma vez que perde alguns benefícios ao se aposentar. Corre-se o risco de futuramente vermos extinta a paridade e integralidade.

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