Primeiras palavras
Batata com três T do outono de 2025, como diz Malu, ficará para a eternidade
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Minha filha Maria Luiza está naquela fase deliciosa da vida em que a linguagem oral começa a florescer. É uma fase que, com toda honestidade, talvez seja uma das mais gostosas desde que ela nasceu. E olha que eu achei tudo lindo até agora, até quando ela trocava o dia pela noite, e eu andava pelas paredes de sono.
Mas agora é diferente. Tem um encantamento especial em vê-la descobrindo as palavras, nomeando o mundo, tentando colocar som nas coisas que antes ela só olhava, apontava ou ignorava solenemente.
É como se, de repente, ela tivesse recebido uma chave mágica que abre pequenas portas do entendimento. Cada palavra nova é um universo sendo acessado. Um “áua” vira água. Um “au-au” é cachorro. E o “não”. Esse ela aprendeu rapidinho, com ênfase, com entonação, com propriedade. Um verdadeiro sucesso linguístico.
Mas o que mais me encanta — e aqui peço licença e perdão aos fonoaudiólogos de plantão — são os errinhos. Ah, os errinhos! Esses pequenos tropeços de pronúncia que tornam tudo mais doce.
Quando ela diz “tatata” em vez de batata, meu coração derrete como manteiga em frigideira quente. Eu não quero corrigir. Quero congelar aquele som, guardar num potinho imaginário com etiqueta e tudo: “Tatata — outono de 2025”.
Tem também o “pepeta”, que ora significa chupeta, ora qualquer objeto que ela ache digno de ser chamado assim. E o jeito como ela me chama, às vezes um “mamãe” claro e límpido, às vezes um carinhoso e embolado “mãmã”, como quem tem pressa de me amar com a boca cheia de afeto.
Eu sei que vai passar. Que logo ela vai aprender a falar “batata” com B, T e tudo certinho. Vai articular palavras, frases e argumentos pra me convencer a deixá-la comer mais uma colher de brigadeiro. Mas, por enquanto, eu me delicio com cada sílaba trocada, cada som inventado, cada palavra reinventada pela sua cabecinha ainda em construção.
Fico aqui, assistindo a esse espetáculo do crescimento, e pensando que, se a vida tivesse um botão de replay, eu voltaria pra ouvir “tatata” mil vezes mais.