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Naquela quadra...

Beócio, o espertalhão, sabe do que mulher mais gosta

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução

Beócio nasceu de um casal normal, mas estava longe de receber a atenção dos olhares femininos. Não que fosse disforme de aparência, apesar de nunca ter sido considerado bonito, mas não era tido como feio, aliás, muito feio. Entretanto, além da aparência não tão agradável, o que mais chamava a atenção das pessoas era a sua capacidade de falar bobagens ou, como sua mãe gostava de falar: “Beócio, deixa de bobice!”

Já adolescente, ouviu pela primeira vez do melhor amigo, o Restolho: “Quem gosta de homem é viado! Mulher gosta é de dinheiro!” E, assim, Beócio foi formando o seu caráter, digno da extraordinária sociedade brasileira, sempre aliada aos bons costumes. Obviamente que sim!

Tanto é que, certa vez, Beócio, ainda sem um pelinho sequer despontando em sua face, saía bem cedo para comprar pão na padaria da esquina, quando avistou uma lindíssima garota de uns vinte e poucos anos, em trajes minúsculos, se despedindo sorridentemente de um homem muito mais velho e, pasmem, até mais feio que ele. O tal homem estava em um carrão conversível! “O Restolho sabe mesmo das coisas!”, pensou quase em voz alta.

Já adulto, Beócio não conseguia se firmar em emprego algum. Não que fossem trabalhos difíceis de serem executados, mas os salários oferecidos nunca iam além de, no máximo, dois salários mínimos. Sem muito estudo, Beócio resolveu montar uma empresa de segurança com o velho amigo, o Restolho, que também nunca havia se dado muito bem com os livros. O nome da empresa: Falcões Detonadores.

E, graças aos contatos que o pai do Restolho possuía, conseguiram alguns contratos meia-boca com empresas de renome: Birosca do seu Zé, Salão de Beleza da Dirce e Churrasquinho de Gato do Balacobaco. Na primeira, os dois sócios, cada um plantado de um lado da porta do banheiro, observavam se um cliente mais alcoolizado faria xixi nas paredes. Na Dirce, eles ficavam de olho se alguma cliente levava sem querer um frasco ou outro de esmalte. Já no terceiro estabelecimento, Beócio e Restolho tinham a função de fazer cara feia para os clientes que quisessem colocar mais farofa nos espetinhos.

No final do mês, a Falcões Detonadores não conseguia angariar muita coisa. No entanto, os dois adoravam a sensação de poder, como se tivessem algum. Encolhiam as barrigas enormes, estufavam os peitos peludos, mexiam repetidamente nos cavanhaques, faziam beicinho, como se estivessem bravos. Tudo, obviamente, os dois haviam aprendido nos excelentes filmes do Steven Seagal, que, injustamente, jamais venceu um Oscar.

Beócio acabou se casando com Rose, manicure do Salão da Dirce. Restolho juntou os trapos com Meire, moça dali mesmo da quadra. Cada casal teve dois filhos, todos praticamente sustentados pelas esposas, já que os Falcões Detonadores, de fato, jamais alçaram voo. Os sócios, teimosos, continuaram acreditando e, talvez por isso, a amizade continuou firme. Tanto é que os dois, apesar dos protestos das respectivas esposas, votaram em um candidato que prometia armas para todos.

Pois é, o tal candidato venceu as eleições, a crise veio que veio e levou a Birosca do seu Zé, o Salão de Beleza da Dirce e o Churrasquinho de Gato do Balacobaco. A Dirce acabou se engraçando por um bonito rapaz mais novo, que criava galinhas caipiras na parte rural em volta da cidade. A Meire pegou os filhos e foi trabalhar na cidade ao lado, onde dizem ter tido sucesso na venda de salgadinhos e docinhos. Já o Beócio e o Restolho continuam juntos, a amizade ainda mais firme. Não conseguiram comprar a tal arma prometida, mas estão cada vez mais convictos de que mulher gosta mesmo é de dinheiro.

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