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Inocentes úteis

Bolsonarismo agrega coragem para enaltecer pior presidente

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Mathuzalém Júnior* - Foto Iaac Nóbrega

Palavra da moda quando o reduto a ser mencionado é bolsonarista, a desinteligência parece ter tomado conta do corpo e da alma de boa parte da população brasileira que ainda acredita no palavreado chulo, às vezes obsceno, do tenente presidente. Em decorrência do que ouço ou recebo pelo zap zap, é nisso que acredito. E, sinceramente, acredito com alguma decepção e com um pesar descomunal, daqueles que não cabe na alma. Profanar ideais e romper com o progresso conquistado com dor e suor é pior do que eventualmente cuspir na própria imagem. É o que vejo e sinto na labuta insana daqueles que trabalham dia e noite para fazer do atual governo o pior que já tivemos desde a independência, em 1822. Insanos, mas merecem respeito. São corajosos.

Será que estou exagerando? Esqueci de algum? Com certeza, não. Tivemos parecidos. Pior, jamais. Em resposta à afirmação inicial (a da tal desinteligência), o episódio da prisão do ex-ministro Milton Ribeiro e a quase certeza de intervenção do comando do governo na Polícia Federal provam que o presidente acha que, fora ele e seu entorno, todo o restante do país é burro, tapado, ignorante ou, na melhor das hipóteses, ingênuo para acreditar em tudo que diz. Os inquestionáveis dados das recentes pesquisas de intenção de votos mostram que, se há algum inocente nessa história, é o próprio mandatário. Nesse caso, os que circulam no entorno de sua excelência são os inocentes úteis.

E não é pra menos. São 44% de votos teoricamente consolidados, contra 32% flutuantes. Como tratamos de política, nada que não possa mudar em um piscar de olhos. No entanto, como tratamos de políticos, os números certamente assustaram e já afastaram supostos correligionários do mito. Os caciques daquele grupo fisiológico não sabem mais o que fazer. Na verdade, permanecerão no governo enquanto o tacho não estiver limpo. Sempre foi assim e assim sempre será. Isso quer dizer que, salvo estrondosos enganos, o cenário permanecerá inalterado até outubro. Pode ser que não, pois a descrença em relação ao governo hoje é bem maior do que o picadeiro de onde eram destilados ódio, pensamentos negativos e outros ressentimentos venenosos.

Nada foi reformulado. Apenas o eleitor não é mais o mesmo. Considerando a preocupação das pilastras e dos quadros fixos dos palácios do Planalto e da Alvorada, sua excelência está com as esporas, os pedais da moto, o motor do jet ski, os pés e as barbas em grossa salmora. Talvez besuntado de pasta d’água para evitar que, além da cara, queime também a consciência. É o governo do absurdo. O povo sem emprego, morrendo de fome, a Covid ainda sobrasando e acusações terríveis de assédio, mas, para os defensores do caos, somos uma maravilha a ser estudada pelo mundo moderno. Eita!! Se alguém ou alguma coisa precisa ser estudado no Brasil é justamente aquele que acha que desemprego, fome, ausência de probidade e corrupção na atual administração são invenções da mídia comunista.

São os mesmos que também debocham de monitoramento da Universidade de São Paulo (USP), cujo resultado revela que seis em cada dez mortos e internados entre março e junho por conta da Covid-19 não tomaram a terceira dose da vacina. É triste, mas quem procura acha. Louvo a coragem dos que negam a vida. Uma pena, mas negacionista raiz precisa mesmo conhecer outros mundos para, quem sabe, voltar depurado em encarnações futuras. É a chance de eles experimentarem algum conhecimento de Deus. Não o do slogan presidencial, mas o Mestre dos mestres, o que não tolera a banalização do ódio gratuito entre irmãos. Luiz Inácio, Ciro Gomes, Simone Tebet, Papa Francisco ou o próprio Bolsonaro?

Do ponto de vista da recuperação econômico-social, realmente não importa quem será o presidente da República em 2023. Contando ou não com maciça simpatia do eleitorado, o escolhido terá de recolher cacos para tentar remendar o Brasil de nossos tenebrosos dias. O ideal é que fosse eleito quem nos colocou no abismo. Provaria do próprio veneno. No entanto, suceder o mito é uma maldição tão absurda que não deve ser lançada nem para os piores inimigos. Sei que é ruim, mas precisamos mudar para evitar um precipício mais profundo. Na pior das hipóteses, temos de estar livres dos que pregam a palavra de Deus apenas para tirar o sagrado din din do bolso do povo. Para eles, o povo que se exploda. Concluindo, nunca é demais repetir: E agora, Jair? Gotham City te espera.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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