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Demônios ocultos

Bolsonarismo criou Gomorra que envergonha Sodoma

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Marcello Casal Jr

O tempo – sempre ele – inaugurou esta semana mais um outono, a estação de queda das folhas e de tudo que já subiu. Junto dele, o Partido das Lágrimas (PL), do Valdemar Todo Puro, lançou a mademoiselle das arábias à sucessão do marido fujão. E o que tenho a ver com essa barafunda? Tudo. Se a coisa desanda e dá certo, mais uma vez o país inteiro, mesmo sem rima, vai tomar na abundância. Graças a Deus, tudo indica que será somente mais um sonho de verão – digo de outono – dos talibãs que não aceitam o comando das mulheres. Acho até que eles têm alguma dificuldade para gostar delas. O tempo – novamente ele – nos dirá. Enquanto isso, endosso a tese de que o melhor do Brasil é realmente o brasileiro. Muito mais do que o fujão do Cerrado e a princesa da satélite das arábias, nós é que somos joias raras.

É esse povo que precisa todos os dias ir até às margens plácidas do Lago Paranoá e gritar: Fora mito de Curicica! Fora dondoca das arábias! Fora Valdemar, o ex-outono! É o mesmo povo que tem a necessidade de lutar diariamente contra os medinhos dos patriotas, sob pena de continuarem escravizados pelo Capetão. E lembrar que, no auge da campanha de 2018, o então filósofo de alcova Olavo de Carvalho, disse – e Jair Messias acreditou – que o brasileiro era o povo mais covarde, imbecil e subserviente do universo. Em relação aos seguidores do encantador de emas, ele acertou em cheio, pois todos continuam imbecis, impertinentes, emburrecidos e esperando o troféu prometido pelo demente das divindades evangélicas pelo golpe fracassado de 8 de janeiro.

Com seus demônios ocultos saltando do verde encardido da bandeira que até hoje carregam enroladas nos automóveis, a maioria desses seguidores ainda sente dores nas costas calejadas pelo peso dos fortões que os mais fracos tiveram de suportar durante os acampamentos festivos defronte aos quartéis. O bafo no pescoço e o grunhido leonino na altura do ouvido esquerdo eram apenas pequenos detalhes. Não tenho informações claras e nem numéricas sobre o pós-Sodoma e Gomorra protagonizados pelos intolerantes das barracas de lona montadas na planície serena do Paranoá. O que sei – e posso provar – é que alguns conhecidos mudaram de AM para FM enquanto, à meia noite, habitavam a toca do dragão, onde, voluntária ou involuntariamente, devem ter provado o fogo da luxúria.

A mudança de canal ocorreu logo após serem obrigados a experimentar do feitiço que usavam para acusar qualquer esquerdopata consciente e convicto de que o vocábulo rábica somente pode ser aceito quando se tratar da vacina. Mais do que vicia, ele transforma um simples contato em amor platônico. Deus acima de tudo e de todos que me livre desse mal. No caso em questão, o que ocorreu foi o contrafeitiço. Deixando de lado os mimimis, os considerandos e as eventuais libertinagens farisaicas e finitas, imaginaram os dias que antecederam o traque golpista como um paraíso. Só não foram informados que paraíso não é um lugar, mas um breve momento que conquistamos. Esse momento pode determinar um futuro que estava preso no armário onde também ficam escondidos os pardais, as rolas e as cobras inofensivas.

Enquanto a ideologia fazia o pau quebrar nos acampamentos pró-Bolsonaro, as baratas tontas lotavam os logradouros da cidade em busca do que comer. Então, por que não dar razão ao Olavinho das Condongas? Foi ele quem disse que a covardia de um povo é o que melhor alimenta as covardias praticadas contra esse mesmo povo. Verdade verdadeira. Mentira seria afirmar que o inimigo da época obrigaria as duas dúzias e meia de duvidosos cidadãos a trocar um hamburgão caseiro por uma chibata desconhecida, embora lubrificada no azeite dos deuses e afiada no esmeril da Casa de Noca. Juro que não sei o endereço dessa residênxcia, mas asseguro que ninguém sai de lá como entrou. O pregueamento sempre é atingido. O pisca a pisca chega a mudar de cor.

Soube de fonte limpa, que, depois da visita a tal Noca, a turma fica zonza e balbuciando palavras desconexas e sem sentido, do tipo Oncotô, Proncovô. Enfim, o pikachu vira um pokémon sem pilha. E não são aceitas reposições de células. A título de consolação – talvez condolências -, diria para esses que o mundo seria melhor se não houvesse mitos prometendo melhorá-lo. Infelizmente, Olavo de Carvalho morreu antes de provar de seu próprio veneno. Em verdade, partiu para a casa do Ramalho sem conhecer o resultado do veneno que destilou sobre um bando de “homens de geleia”, expressão criada por ele para, supostamente, definir os vocês que, quando presos por um golpinho de quinta série, não seguram o tchan.

Como tenho sempre a companhia do outro que manda escrever o que normalmente escrevo, não é difícil imaginar como é o tchan, tchan, tchan, tchan nas noites sombrias da penitenciária. É nesses momentos que os ETs esverdeados de vergonha descem à Papuda para, em nome do amor, salvar o casal das bijouterias mixurucas da Feira do Rolo. E não é kaô. Ao povo realmente brasileiro deixo minha mensagem de autoajuda: Não mude o rumo da prosa antes de mudar seu próprio contexto. Em outras palavras, não faça dar para trás quem se acostumou a andar sempre em frente. A menos que te dê paz a dor do prazer. Resumindo, melhor que Sodoma jamais saiba o que ocorreu de fato em Gomorra. Fiquemos por aqui.

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