Pão de ló
Bom cabrito cresce apanhando sem berrar
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Até bem pouco tempo um celeiro de boas notícias ruins, o Brasil pós-Bolsonaro voltou aos trilhos e, aos poucos, vai deixando de fabricar fatos para fornir as redes sociais e o noticiário das emissoras que não imaginavam que houvesse vida depois do mito. Há. E como! Na verdade, a vida começou de fato após a morte política do Messias. O problema é acordar e perceber que, associado ao silêncio da rede de intrigas, o desgoverno do desgovernado Jair não rende mais nada além de um pé de página.
Logo ele que, ao longo desses quase sete anos foi terrível do ponto de vista político, mas pródigo em manchetes jornalísticas do tipo “corra que o capitão vem aí”.Nesse período era despertar e os assuntos da negritude bolsonarista pululavam na internet e clareavam o dia dos profissionais de imprensa. Entre as lógicas da política, uma das mais verdadeiras afirma que, mais importante do que vencer uma eleição, é convencer o eleitor. Quem não convence, dificilmente se estabelece, isto é, é reeleito.
Por isso, Bolsonaro entrou para a história como o primeiro ocupante do Palácio do Planalto a perder uma disputa pela reeleição desde a redemocratização. Alijado da política e cada vez mais próximo da cadeia, Bolsonaro perdeu pela insistência em cobrar dos adversários atitudes e posturas que ele nunca teve. Crítica Lula da Silva pelas alianças espúrias, segundo ele, mas, durante e após seu governo, se envolveu até a alma com o que há de pior no sistema político brasileiro.
Seus aliados na Câmara e no Senado são sinônimo de congressistas eficientes, na medida em que eles mesmos se locupletam com o crime organizado, eles mesmos investigam, eles mesmos absolvem e, por pouco, eles mesmos não se autoproclamaram inimputáveis. Além disso, trabalham diuturnamente para absolver seus apaniguados de atrocidades contra a Constituição e contra a pátria. Eles são a prova incontestável de que, no Brasil de hoje, quase tudo é adulterado.
Com a proximidade das eleições gerais, quando muitos do que aí estão voltarão para seus afazeres domésticos ou comunitários, azar daqueles que teimam em se dirigir ao presidente Lula como ladrão, quadrilheiro, pinguço e comunista, entre outros adjetivos. Ele pode ser tudo isso, mas, como bom cabrito não berra, faz tempo que o líder do petismo está mais para pão de ló: quanto mais batem, mais ele cresce.
Aliás, vale lembrar que não foi Lula ou qualquer membro da esquerda quem propôs e lutou para aprovar a PEC da Bandidagem. Foram os santinhos do pau oco, os representantes da classe média que não gostava de encontrar pobre no aeroporto e agora encontra pobres na rodoviária. Finalmente, a luz do fim do túnel parece ter sido religada. A vitória de Luiz Inácio em 2022 deverá se repetir em 2026 por uma razão política das mais óbvias: se a população não lutar por alguma coisa, será vencida por qualquer coisa.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978