Carnaval das ilusões
Brasil com ‘z’ nem se Deus decidir mudar cidadania
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Ainda nem chegou o Natal, mas, folião inveterado, já estou pensando no carnaval. Aliás, nos carnavais. O primeiro, do Rei Momo, como no dia 02 de fevereiro. O segundo, o da intubação do clã Bolsonaro, deverá marcar a quarta encarnação de Luiz Inácio Lula da Silva. Será a última? Só o tempo dirá! Aguardemos! Enquanto não chega o dia de votar, andei pesquisando sambas enredo das antigas e descobri que, bem antes do surgimento político de Valdemar Costa Neto, Arthur Lira, Sóstenes Cavalcante, Ciro Nogueira e Eduardo Cunha, entre outros menos afamados, os compositores já os conheciam das páginas policiais.
Na verdade, faz décadas (ou séculos), que o Brasil inteiro sabe o nome, endereço e o CPF dos que só querem explorar o meu país. Exploram e deixam explorar porque têm rabo preso ou não conseguem rezar direito na cartilha alheia. Nem sempre tão letrados como nossos deputados e senadores, os sambistas dos anos de ouro da Marquês de Sapucaí cantaram em verso e prosa que toda essa roubalheira vem lá dos tempos de Cabral, época em que levaram nosso ouro e até o pau-brasil. Me ative a uma única escola de samba, a qual, caprichosamente, alertava, em 1989, que, embora floresça tudo que se plante por aqui, a preferência é por derrubar árvores, poluir rios e matar jacaré no Pantanal para fazer bolsa e cinto.
No mesmo samba, os autores insinuavam que ninguém sabia, ninguém via, mas a turma das emendas parlamentares já depositava na Suíça o que tirava do Brasil com “Z”. O tempo passou, mas o Congresso e a maioria dos congressistas continuam os mesmos. É só papo, é caô. Do alto de minha insignificância como letrista, poderia dizer que ainda chegará o dia em que diremos: “Quem comeu, comeu e quem não comeu, não come mais”. Poderia! Acho que jamais direi porque sempre esbarrarei naqueles que fazem qualquer negócio para evitar que o Brasil com “S” se consolide política, econômica e socialmente.
Interessante, mas acho que os compositores dos anos 80 se transportavam por osmose até os dias de hoje, mas especificamente para a Avenida Paulista, onde patriotas de araque se enrolam ou esticam a bandeira dos Estados Unidos e pedem a Deus por Donald Trump. De forma caprichosa, há 39 anos, cinco autores, entre eles o falecido Carlinhos de Pilares, defendiam a fé e a esperança como forma de conquistar “o que é da nossa terra, sem essa de americanizar”. Como se estivessem antevendo a bestialidade antipatriótica, recomendavam ao povão mais sério para que não enfiassem “o pau noutra bandeira”. Diziam mais: “Tira, tira e bota a nossa brasileira”.
Deixemos nos transportar e nos seduzir pelas asas da poesia e pelo som de lindas melodias vindas da passarela da Sapucaí. Criemos coragem para dizer aos nossos homens públicos que, com a força e a união do nosso povo, ninguém vai nos enganar de novo. A eleição de 2026 bate à nossa porta, disposta a ajudar o povo heróico e varonil a ecoar, em raios fúlgidos, o grito definitivo de liberdade. Que ela venha como um sublime pergaminho e acabe de vez com a escravidão política de boa parte do eleitor nacional. Salve! Salve! Alegria, alegria, pois o mito se evaporou no carnaval das ilusões.
Gigante pela própria natureza e tema de um samba-enredo, o rei mandou sambar, mandou vadiar ao som do mar e à luz do céu profundo do Cerrado de Brasília, a cidade onde se formou a mistura de cores e raças e se consolidou a miscigenação do povo. Ó Pátria amada, paz no futuro e ódio no passado. Hoje nossos bosques têm mais vida. Como filho teu que não foge à luta, exalto o verde-louro desta flâmula e torço para que, após o resultado do pleito presidencial do ano que vem, todos os filhos deste solo possam dizer ao mundo, particularmente aos Estados Unidos de Donald Trump: “Brazil com “Z”, não seremos jamais”.
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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras