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Brasilidade divina

Brasil não para guerra, mas diz ao mundo que vive em paz

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto Reprodução/ABr

Parte da história da humanidade, as guerras são conflitos armados iniciados por diferentes motivos, entre eles desentendimentos religiosos, interesses políticos e econômicos, disputas territoriais e rivalidades étnicas. Arqueólogos já estudaram vestígios de que os embates são da época do homem pré-histórico, período em que dominar a guerra era fundamental para garantir a sobrevivência. O mundo se modernizou, a vida se ampliou, mas o ser humano permaneceu arcaico, dominador e assassino voraz. Em pleno século 21, a prática revela que os novos e velhos confrontos não cessarão enquanto a ganância pelo poder, o desejo mórbido pelo espaço alheio e a cor da pele tiverem mais importância do que a solidariedade, o amor e o brilho dos olhos.

Como disse o poeta, o mais triste é que as balas de uma guerra só alcançam inocentes. Elas raramente atingem o coração dos poderosos que acenderam o estopim da discórdia. Infelizmente, faço minhas as palavras do filósofo grego Platão, para quem só os mortos conseguem ver o fim de uma batalha. Graças à imbecilidade de duas dúzias e meia de fariseus fantasiados de patriotas e comandados por um “patriota” travestido de profeta do além, por muito pouco o Brasil se livrou de estar hoje envolvido em uma escaramuça civil sem precedentes. A intervenção de pessoas sérias e a força do povo brasileiro evitaram um mal maior.

Na luta brasileira contra o ódio e contra o “capetão”, venceram o país e a democracia. Esta foi a lógica do combate inventado e perdido pelos patriotas sem pátria. Alguém perdeu porque alguém precisava ganhar. Ganhou a paz. Deus é brasileiro e já provou isso em diversas oportunidades, inclusive na luta entre o bem o mal, vencida pela maioria do eleitorado que queria o Diabão bem próximo do inferno. A necessária defesa de Israel aos ataques covardes e criminosos dos terroristas do Hamas são a mais nova constatação da brasilidade de nosso Mestre Supremo. Em que pese a tristeza pelas quase 6 mil mortes, a maioria crianças, mulheres e idosos, até agora o governo brasileiro é um dos grandes vencedores da refrega entre islâmicos e israelitas.

Presidente temporário do Conselho de Segurança da ONU, o Brasil ascendeu como o principal mediador do jogo bélico, cuja consequência, conforme vem pregando o presidente Luiz Inácio, são as vidas perdidas de um lado e de outro. Mesmo vetados pelo governo dos Estados Unidos, os esforços de Luiz Inácio e as incessantes tentativas brasileiras pelo cessar fogo mereceram aplausos e elogios públicos de mandatários importantes, entre eles o francês Emmanuel Macron. Lula não iniciou a guerra, tampouco vem conseguindo estancá-la. No entanto, mostrou ao mundo que o Brasil de hoje pensa, age e trabalha pela paz.

Apesar do ódio de meio mundo árabe pelos judeus, Israel também marcou pontos memoráveis ao receber apoio maciço de boa parte do planeta. Vítima histórica das hostilidades dos fundamentalistas islâmicos, Israel ou se defendia matando ou deixava seu povo morrer fuzilado. Responsável direto pelo ambiente absolutamente conflagrado da região, o Hamas está por um fio. Com apoio financeiro do Irã, o grupo terrorista talvez não seja dizimado pela força dos israelenses, mas certamente sofrerá baixas, perderá força e seus líderes ficarão parcialmente sem o poder na Faixa de Gaza.

O resumo de qualquer batalha é o mesmo: a maioria dos mortos é inocente e nada tem a ver com a animosidade dos chefes. A razão também é a mesma: nos bastidores de uma guerra os covardes se escondem durante e depois do conflito. De minha parte, nos momentos de hostilidades individuais ou coletivas penso sempre como os filósofos e os poetas do óbvio: se não houvesse a disputa os homens não teriam motivo para fabricar armas e provar ao mundo o quanto são ignorantes. Senhores do enfrentamento, aproveitem os conselhos da alma, ouçam a voz do coração, pensem como Carlos Drummond de Andrade e, antes que morram mais inocentes, “façam as pazes até a próxima guerra”.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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