Normalidade ilusória
Brasil, país de loucos, descobre que só doido vence nessa loucura
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Desde os Beatles, eu tenho o maior medo desse negócio de ser normal. Atribuída a John Lennon, a frase teve sequência na pena e na voz de dezenas de outros poetas e pensadores. Para Carl Jung, por exemplo, ser normal é a meta dos fracassados. Mais realista do que o rei, Raul Seixas viveu preocupado com sua impiedosa capacidade de fingir ser normal o tempo todo. Roqueira contemporânea, Lady Gaga tentou ser normal, mas descobriu a tempo que a normalidade é uma das coisas mais chatas do mundo.
Enfim, a grande loucura é ser normal nesse mundo louco habitado por Trump, Bolsonaro, Tarcísio, Zema, Putin e Netanyahu. Não à toa, no poema “Meus amigos são todos assim”, Fernando Pessoa definiu a normalidade das pessoas como algo puramente ilusório. Portanto, seja louco. Faça loucuras, porque ser normal o tempo inteiro não tem graça alguma. Deus me livre ser normal. Na verdade, a gente vive em um mundo onde não vale a pena ser normal. É claro que há limites para a anormalidade.
Por acaso, no Brasil de hoje, comandado por um bando de psicopatas loucos e desvairados, a loucura maior é conseguir se salvar da mediocridade dos que fazem da loucura um meio de vida. Tenho medo desses. Aliás, o momento mais perigoso de um psicopata é quando ele tentar parecer normal. Ser normal é para os amargurados que, como os verdadeiros patriotas, tentam diariamente salvar o país das unhas encravadas dos vampiros do dinheiro público. Ser louco é ser feliz. Considerando que a normalidade é subjetiva, peço vênia aos loucos para dizer que meu normal é diferente.
Com certeza, somos normalmente diferentes. Não é normal normalizar o que não é normal. Que o digam Jair, Flávio e Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Fernando Collor de Mello. Condenado como golpista, o ex-presidente cumpre medida cautelar à beira de uma piscina aquecida, sob pérgulas que lhe garantem sombras intermináveis e provavelmente se servindo de canapés e bobiças comestíveis acessíveis apenas aos loucos que não rasgam dólares. Além de conspirar publicamente contra a própria pátria, os irmãos metralhas não se envergonham de usar cargos eletivos para esculhambar a nação, ao mesmo tempo em que vivem às expensas do Erário.
Louca por conveniência antipetista, a ilustre Carla Zambelli vive um calmo, normal e sereno ano sabático de presidiária na Itália. Collor de Mello, o mais louco entre todos os loucos da política, cura sua loucura consentida recolhido ao conforto de sua cobertura de milhões de reais na orla de Maceió. O que todos têm em comum deixa qualquer brasileiro louco de raiva. Mesmo presos ou conspirando contra o Brasil, eles recebem salários corrigidos e acrescidos de vantagens e, no caso de Flávio, Eduardo e Zambelli, mantêm tranquilamente seus mandatos.
Fazer o que se o mundo é dos loucos, dos que vivem fora da realidade? São os mesmos que, fugindo de suas responsabilidades públicas, se lixam para a violência urbana, para a fome, para a crueldade da desigualdade social. Para essa gente anormal, uma vida vale muito menos do que um peido bem dado. Não me preocupo em afirmar que minha meta em busca da normalidade virou piada de salão. Será que, no Brasil de 2025, é estranho ser normal? É normal ser estranho? Será que é normal essa saudade do tempo em que todos éramos menos loucos? Sei lá! Depois de tanto tempo, qual a graça de ser normal? Acho que nenhuma, porque aqui e acolá os loucos é que são destaques. Só eles vencem.
