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Casa de Mãe Joana

Brasil sem rumo precisa de um partido que não tenha dono

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Junior* - Foto de Arquivo/Reprodução Sapo

Esbranquiçadas pelo tempo e encardidas pela falta de uso, minhas plumagens tucanas estão temporariamente na gaveta à espera de um milagre que transforme o Brasil novamente em uma pátria politicamente honrada e de brasileiros verdadeiramente preocupados com o país. Embora provisoriamente fora do cenário, a social democracia que aprendi a cultuar não está morta. Ela pode ressurgir a qualquer momento, exatamente com ocorreu em 1988, por ocasião da cisão do PMDB de Orestes Quércia e de um amontoado de mazelas. Surgia ali o PSDB de Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, Franco Montoro, Sérgio Motta e José Serra, entre outros tucanos menos famosos. Portanto, em resposta àqueles que me acusam de comunista simplesmente por não aceitar o desgoverno de Jair Messias, sou peessedebista à moda antiga.

De forma objetiva, não adiro ao PSDB de João Dória ou de Geraldo Alckmin, assim como não sou – na verdade nunca fui – petista de carteirinha, tampouco eleitor ferrenho de Luiz Inácio, Dilma Rousseff, José Dirceu ou afins. Meus laços fortes e intransponíveis são com o Brasil. Por isso, mais uma vez respondendo a meus inquisidores, pela primeira vez, desde 1989, votarei no Lula lá lá sem remorso algum. E a razão é simples: faz algumas décadas o país não vive um céu de brigadeiro, mas estava muito longe do inferno farofento de hoje. O governo de 5ª. série ainda não disse a que veio. Daí, a fuga em massa dos eleitores que, em 2018, chegaram a achar que o caminho do paraíso estava próximo. Deram com os burros n’água e por pouco não se afogam no lamaçal golpista criado para esconder a inércia e a inaptidão do mito para o cargo.

Sobraram duas ou três dúzias de pessoas que aderem, fanática e passivamente, a qualquer tipo de seita que oferece vida longa, luxo eterno, lucros fáceis, libidinagem sem restrições, frango com farofa com fartura e muita, muita confiança em dias, semanas, meses e anos piores. É o cardápio do nosso atual cotidiano. O custo dessas benesses é pequeno: basta votar de olhos fechados e aceitar de boca cerrada as regras personalizadas e ditatoriais do capitão. Simples assim. Para o povo que adora criar monstros, os que se insurgem são esquerdistas e antipatriotas. Esse povo do cercadinho parece esquece que nem todo ser humano que é contra Bolsonaro é petista ou comunista. A maioria é só inteligente mesmo.

Aprendi com o tempo de maturação política que temos de respeitar o governante eleito, independentemente de sua corrente doutrinária. No entanto, é fundamental que haja reciprocidade. Se não há respeito de cima para baixo, natural que vivamos em situação análoga à Casa de Maria Joana, alusão a um lugar em que vale tudo, onde todo mundo pode entrar, mandar, uma espécie de grau zero de organização. Infelizmente não vejo diferença entre a expressão e a realidade nacional. Voltando à origem tucana, vale registrar que, muito mais do que a representatividade de uma aeronave militar fabricada pela Embraer ou de uma ave da família Ramphastidae e que vive em florestas tropicais, o símbolo do PSDB sempre a foi a defesa intransigente da democracia.

Também importante na linhagem do partido é a descentralização política e administrativa, bem como a obrigação de o Estado estar a serviço do povo e não de grupos privilegiados. Sei que pouco disso foi conquistado ao longo de governos tucanos. Mais do que o despreparo, credito essa dificuldade ao fisiologismo dos políticos brasileiros, cuja capacidade de pensar no povo está abaixo de zero. Mesmo não concordando com uma série de ações e admitindo que, quando ascendeu, o PSDB não cumpriu com o que prometeu, mantenho minhas convicções sociais democratas. O motivo é singular: o PSDB não tem dono. Que o digam Waldemar Costa Neto (PL), Roberto Jefferson (PTB), Antônio Bivar (PSL), Lula da Silva e José Dirceu (PT) e Ciro Nogueira e Arthur Lira (Centrão).

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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