Dá-lhes, PF
Brasil vê abismado as safadezas que corriam lá pela Abin
Publicado
em
Ontem, o Brasil recebeu uma notícia estarrecedora, embora — sejamos sinceros — não exatamente surpreendente. A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu filho Carlos Bolsonaro, o ex-diretor da ABIN, Alexandre Ramagem, e outros servidores do órgão, por envolvimento no esquema criminoso conhecido como “Abin paralela”. É isso mesmo: a Agência Brasileira de Inteligência, que deveria servir ao Estado brasileiro, foi transformada num instrumento particular de espionagem — a serviço de um projeto de poder, de um clã familiar, e de interesses absolutamente escusos.
A denúncia revela que o ex-presidente utilizava a estrutura da Abin para espionar opositores políticos, jornalistas, magistrados, autoridades públicas e até mesmo a Ordem dos Advogados do Brasil. Tudo para se proteger, perseguir adversários e blindar Flávio Bolsonaro — aquele mesmo, senador da República, enrolado com a Receita Federal. A ideia de que o próprio Estado foi sequestrado para proteger um filho acusado de corrupção é um tapa na cara da democracia. É o retrato de um Brasil que flertou perigosamente com o autoritarismo — e, de muitas formas, ainda está sob os escombros desse período.
É assustador pensar que, sob Bolsonaro, o Brasil ensaiou um roteiro típico de regimes autoritários: vigilância estatal contra cidadãos, perseguição política, instrumentalização de órgãos públicos, tudo feito nas sombras, à margem da legalidade e com total desprezo pelas instituições democráticas. Imagina só o que teria acontecido se ele tivesse vencido a eleição de 2022. Não estaríamos discutindo apenas indícios de espionagem, mas, muito provavelmente, estaríamos vivendo sob um regime cada vez mais repressivo e sem freios institucionais. A democracia brasileira escapou por pouco. E ainda assim, as sequelas estão por toda parte.
O mais lamentável — além do crime em si — é a destruição simbólica e prática da história da Abin, uma agência que, apesar das polêmicas, construiu ao longo de décadas uma trajetória de seriedade técnica e institucional. Ver seu nome associado a uma organização criminosa a serviço de um projeto autoritário é desolador. A Abin não foi apenas instrumentalizada. Ela foi manchada. Contaminada por corruptos que, ao se dizerem patriotas, praticaram justamente aquilo que juraram combater.
O Brasil precisa encarar essa verdade: tivemos, sim, um governo que atuou contra os fundamentos da república. E só não foi pior porque as urnas disseram não. Que esse indiciamento seja o primeiro passo de um longo processo de responsabilização e apuração. Porque sem justiça, não há futuro.