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Os aproveitadores

Brasil vive era de golpismo com os picaretas de plantão

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Autor/Imagem:
Marina Amaral/Via Agência Pública - Jornalismo Investigativo - Foto de Arquivo

As digitais de Temer, e de seu publicitário Elsinho Mouco, na humilhante cartinha de desculpas de Jair Bolsonaro revelam que a direita (a dita liberal) está mais próxima do governo do que gosta de aparentar. Tudo indica que novas negociações foram feitas (com Supremo, com tudo?), incluindo fardados mais graúdos do que o capitão. Quais terão sido as ameaças (ou promessas) que fizeram Bolsonaro recuar do golpismo explícito exibido no dia da Pátria?

Pode ser um bom momento para a população se manifestar novamente pela derrubada de um presidente criminoso, sem se deixar engabelar por mais um recuo. Mas, se a oposição de verdade – aquela que não elegeu nem se aliou a Jair Bolsonaro – aderir aos atos marcados pelo MBL para o próximo domingo, não apenas estará se unindo aos que impulsionaram a guinada do país para o fascismo, mas jogando água no moinho do que essa direita ex-bolsonarista chama cinicamente de “terceira via”, referindo-se a si mesma. E que em linhas gerais significa eliminar Lula, o candidato que tem a preferência da maioria dos brasileiros, da disputa eleitoral. Seja lá como for, como já vimos anteriormente.

Aos apaziguadores, que apostam na união de forças contra Bolsonaro, ainda que com metas não definidas – o PSDB, por exemplo, recuou de pedir o impeachment como havia anunciado no calor dos acontecimentos o presidente do partido, Bruno Araújo -, vale lembrar que o que move o MBL – uma “startup de picaretas ambiciosos”, na definição precisa do jornalista Bruno Torturra no Twitter – certamente não é deter o fascismo, que ajudou a semear. O MBL age a serviço de seus clientes.

Kim Kataguiri, o garoto propaganda contratado por organizações “libertárias” americanas para difundir a “marca MBL” na esteira dos protestos de junho de 2013, não tem lealdades, mas interesses. Em um piscar de olhos foi do famoso “políticos não me representam” à escolta do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Continuou prestando seus servicinhos de disseminação de ódio e de fake news antipetistas durante a pressão pelo impeachment de Dilma Rousseff e pela prisão de Lula na campanha que elegeu Bolsonaro. Segue defendendo bandeiras ruralistas e atacando os direitos indígenas, afinado com o governo.

Além disso, o MBL pode ser considerado um dos pioneiros brasileiros na perseguição aos jornalistas – em especial das mulheres. Um exemplo singelo: em 2017, quando a Pública fazia checagem de fatos (projeto Truco), um questionamento de uma de nossas repórteres sobre declarações de Kim Kataguiri com dados incorretos recebeu como resposta uma imagem de um pênis de capacete (o machismo de 5a série lembra alguém?). Também fomos alvo de dossiês e agressões pesadas nas redes sociais, bem como outras agências de checagem como a Lupa e Aos Fatos. E isso antes da eleição de Bolsonaro.

Tenho cá para mim que o MBL só se afastou do governo com quem tem tantas afinidades porque não tinha como vencer seus concorrentes na mesma modalidade – a da difamação e mentira – monopolizada pelos zeros do clã e seus amigos no Gabinete do Ódio. Agora parece estar procurando trabalho na próxima campanha, a do candidato da “terceira via”, pelo qual, aliás, já está valendo até puxada de tapete de senador. Ah, as instituições!

O espírito democrático do MBL e seus patrões na direita será prontamente esquecido quando Janja autorizar o candidato da maioria a ir para as ruas. A partir daí, as mamadeiras de piroca voltarão a voar.

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