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Estelionato Amoroso (V)

Brasília, cidade pequena e seu lado indecente

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução/Gettyimage

Uma das características da capital é que parece que todo mundo se conhece. Isso não é necessariamente verdade, mas não é raro alguém falar para beltrano que conhece cicrano e, por conta dessas coincidências que acontecem frequentemente em Brasília, todos se veem como membros de uma grande confraria. Este, aliás, foi um erro de Arnaldo, que imaginou que a capital, por ser a capital, fosse uma cidade grande.

Pois lá estava a Elaine na agência do Banco do Brasil, a mesma em que a Márcia trabalhava. Toda sorridente, a ricaça não conseguia esconder a satisfação de se encontrar apaixonada. Tanto é que a gerente se sentiu à vontade para fazer um comentário.

– A paixão nos deixa assim.

– Bota assim nisso!

As duas mulheres sorriam, quando, então, Elaine se sentiu livre, leve e solta para mostrar uma fotografia da razão de tamanha felicidade. Foi um baque! Diante daquele rosto tão conhecido, eis que Márcia quase perdeu as estribeiras. Lá estava Arnaldo, o seu Arnaldo, todo sorridente com Elaine em seu colo. No entanto, profissional que era, atendeu a cliente da melhor forma possível. A endinheirada Elaine continuaria faturando às custas de aplicações bem orientadas pela gerente.

Enquanto guardava a sua fúria para si, as horas foram desenrolando de maneira vagarosa, até que, finalmente, chegou o momento de se despedir de mais um dia de trabalho. Desorientada, Márcia foi caminhando para casa. Milhões de pensamentos passavam pela mente em polvorosa. Ora decidia uma coisa, logo em seguida já pensava em fazer outra. Certa estava de que colocaria um fim naquilo tudo logo mais.

Chegou ao prédio onde morava, passou pelo porteiro sem cumprimentá-lo, apesar de sempre ter sido tão cordial. Enfurecida, entrou no elevador e apertou o terceiro andar, apesar de residir no quinto. Tocou a campainha do apartamento de Arnaldo. Nada! Ainda esperou por alguns instantes, até que subiu as escadas, abriu a porta e entrou no seu apartamento.

Ainda estressada, Márcia resolveu tomar um banho. Tirou toda a roupa e a atirou no cesto. Entrou no chuveiro e, não suportando tamanha dor, se sentou sob a água que escorria e chorou. Chorou copiosamente em soluços.

O capítulo VI será publicado no domingo, 21

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