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Ibaneis, o pragmático

Brasília já vive clima de paz e amor para a posse de Lula

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto de Arquivo

Entre o ódio e o preconceito há um túnel. No fim dele, estão a paz, a solidariedade, a boa convivência e, principalmente, a democracia. O diálogo é a ponte que liga duas margens. A harmonia é a melhor música na partitura da vida. Sem ela, seremos eternos desafinados. Então, é chegada a hora de reinventar o Brasil, de recolocar a nação entre as potências econômicas. Sozinho, ninguém conseguirá. A revogação do caos tem de começar por onde ele foi plantado, quase culminando com o fim prematuro da Terra Brasilis. A capital do país é o cenário ideal para que Luiz Inácio e Ibaneis Rocha possam fazer muito mais do que políticos comuns e despreocupados com o bem maior: a sociedade. Supostamente antagônicos, mas seres humanos dispostos a agir contra o ódio e a destemperança, ambos podem perfeitamente nacionalizar, física e definitivamente, a profecia de Dom Bosco, começando por acabar com a hedionda divisão em que nos meteram.

Voar, voar e voar com humildade, sem ter a vergonha de ser feliz. Unir a lenda de Ícaro à sugestão de Gonzaguinha talvez tenha sido o desejo da maioria dos “prefeitos” e governadores que já passaram pelo Distrito Federal, hoje o quadradinho de cerca de 3,1 milhões de pessoas e sede do Governo Central. Biônicos ou eleitos, muitos sequer tentaram, alguns agiram como Pôncio Pilatos, outros trabalharam em benefício próprio, mas poucos, muito poucos, mantiveram o vento soprando de forma harmoniosa e capaz de levar as velas do nosso barco a um porto seguro. Não tenho recibo para criticar ou enaltecer nenhum deles. No entanto, tenho o dever de reconhecer no atual mandatário, o emedebista Ibaneis Rocha, qualidades que jamais vi em seus antecessores. Apesar de rubro-negro roxo como ele, não o conheço pessoalmente e não sou seu eleitor.

Por isso, me acho à vontade para inicialmente lembrar que, desde Joaquim Roriz, em 2006, Ibaneis é o único governador a ter a administração aprovada pelos brasilienses. Nada fácil para uma cidade rachada e que até bem pouco tempo era reduto da esquerda. Inteligente, craque no direito e bom de oratória, o governador reeleito teve o “topete” de assumir publicamente sua escolha presidencial exatamente quando o eleitorado nacional disputava a tapas a primazia dos extremos. Esta foi uma das razões que suscitaram esta narrativa. A outra foi sua vontade de acertar sem o medo de errar. Prova disso é que coube a ele a primeira iniciativa de combate ao vírus da Covid-19. Contra o governo federal, mas a favor da vida, Ibaneis decretou primitivamente o lockdown, montou estruturas de controle da doença e contribuiu decisivamente para que o DF não fizesse parte das longas, macabras e reais estatísticas do Jornal Nacional.

Brasiliense com a coragem dos nordestinos, Ibaneis não saiu do trilho bolsonarista nem mesmo quando Luiz Inácio surgiu como candidato da vez, algo como pule de dez nas bolsas de apostas de Londres, Nova York, Recife, Teresina, Maceió, São Luiz, Salvador, Aracaju, Belo Horizonte e Ceilândia. Os apostadores talvez não tenham se tocado sobre a fidelidade de boa parte dos eleitores do DF. Embora Lula fosse o cara, o governador do quadradinho se manteve firme no apoio a Jair Bolsonaro. Não tenho o dom dos pesquisadores, mas duvido que os votos do mito não sejam mais uma das obras de Ibaneis Rocha. Aliás, vale registrar o arrojo do ex-presidente da OAB-DF ao determinar, há poucos meses da eleição, a derrubada de árvores e a abertura de enormes buracos para túneis e viadutos.

São obras fundamentais para a cidade, mas que sabidamente não ficariam prontas a tempo de reelegê-lo. Em outras palavras, mesmo para os desinteligentes e críticos de plantão, as ações jamais deverão ser configuradas como eleitoreiras. Os empreendimentos são irrelevantes para a narrativa, na medida em que fazer um bom governo é obrigação de qualquer um que se predisponha a trabalhar pelo povo. O que mais me chamou atenção nos períodos pré e pós-eleitoral foi sua atuação como estadista. Ibaneis foi reeleito em 3 de outubro e Lula eleito para seu terceiro mandato poucos dias depois. Enganou-se redondamente quem imaginou o início de uma fase de embates e divergências grotescas entre um governador de direita e um presidente de esquerda e até bem pouco tempo mais extremista do que moderado. Ibaneis pode nunca ter dito, mas deve ter pensado antes do sono da vitória: a união faz a força. E fará.

Mostrando que tanto um quanto o outro estão preocupados em resolver os problemas da cidade e do país, a desconfiança acabou na noite de 31 de outubro. Começava ali uma respeitosa e harmoniosa relação entre cidadãos ideologicamente divergentes, mas convergentes quando o objetivo é o bem da sociedade da qual participam e temporariamente lideram. Disposto a pavimentar e consolidar uma sólida estrada entre os palácios do Planalto e do Buriti, Ibaneis teve seu primeiro gesto legalista e de impacto ao determinar o fechamento de toda a Esplanada dos Ministérios no feriado da Proclamação da República, quando manifestantes que não aceitavam – e não aceitam – o resultado das eleições prometiam um grande ato antidemocrático na capital, inclusive com pedidos de intervenção das Forças Armadas contra a vitória de Lula da Silva.

A manifestação foi transferida para o QG do Exército, onde os patriotas golpistas se mantêm até hoje. Passados quase 40 dias da eleição democrática e soberana de Luiz Inácio, parece que não há mais expectativas negativas a respeito do relacionamento do gestor do GDF com o novo chefe do Executivo federal. Sem dúvidas quanto a sua realização, o último ato será a cerimônia de posse de Lula, da qual Ibaneis certamente participará como um dos convidados de honra. O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, as primeiras-damas Rosângela da Silva, a Janja, e Mayara Noronha Rocha, além do próprio governador, já tiveram a primeira reunião para organização da solenidade. O protagonismo de Janja não é por acaso. A ideia é fazer de Brasília o palco para o “Festival do Futuro” – com artistas de opções, segmentos e ritmos variados – e mostrar aos representantes do mundo, notadamente os sul-americanos, que o Brasil que eles isolaram deixará de existir a partir de 1º. Resumindo, o país que exportava má educação, ódio e preconceito, será coisa do passado.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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