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Casa do Carvalho

Briga do Congresso com Supremo Tribunal deixa povo nocauteado

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Mathuzalém Júnior - Foto Antônio Cruz/ABr

Temporariamente incubada, a guerra fabricada, montada e executada pelas duas casas do Congresso contra o Supremo Tribunal ainda não surtiu qualquer efeito prático. Entretanto, já está desenhado o perfil de suas primeiras vítimas: os pobres e os negros. Imagino que o ócio bem remunerado dos parlamentares seja o responsável pelo clima de beligerância criado para desacreditar, desqualificar e emparedar magistrados, particularmente os da Corte Suprema. É a prova cabal daquele provérbio popular definindo uma cabeça vazia como a oficina do diabo. Para renomados psicólogos, a sensação de vazio pode ser uma decorrência da ausência de alguma coisa na vida.

No caso dos congressistas, parece claro que é falta do que fazer. Do tipo cantiga de grilo, a recente peleia envolvendo o Senado de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o STF comprova a tese de que os senadores e a maioria de seus eleitores não sabem o que querem. Parafraseando o desabafo do brasiliense Joaquim Honório, a sociedade reclama quando a Justiça deixa de cumprir a lei. Quando o juiz é rigoroso na aplicação da lei contra a elite, incluindo os políticos, vira alvo do Legislativo. Difícil, mas como reagir? Escolhendo melhor seus representantes. Simples assim.

Como no Brasil até cadáver tem direito a empréstimo bancário, o Senado se acha no direito de aprovar o que bem entender, desde que seja para afrontar o Poder Judiciário. Na contramão do Supremo, os senadores decidiram criminalizar o consumo e o porte de qualquer quantidade de droga. Não é nada, não é nada, a decisão gerou uma nova droga: o ressentimento da magistratura de segundo e terceiro graus, cujos integrantes, a médio e longo prazos, serão os responsáveis por julgar os malfeitos dos parlamentares. E são muitos. Tantos que, de imediato, a gente não consegue se lembrar de todos.

Serão milhares, a menos que os ociosos de plantão mais uma vez se unam e resolvam trabalhar em benefício próprio para derrubar a proposta de ampliação do foro privilegiado. Em discussão no STF, a proposição mantém deputados senadores sob julgamento do STF, mesmo que renunciem ou percam o mandato. Sobre o efeito prático da criminalização das drogas, com certeza as excelências do Senado têm certeza de que acabaram com o ciclo nacional dos entorpecentes. Acham também que, por conta da PEC aprovada, elevaram o Brasil à condição de modelo para o mundo no combate à maconha, craque, cocaína, heroína, cloroquina, ivermectina e demais “inas”.

Será que eles acreditam mesmo que o ímpeto de Rodrigo Pacheco livrou o país dos traficantes e dos usuários de drogas? Acho que sim. Na verdade, prefiro achar que eles não sabem o que dizem, tampouco o que fazem. Se soubessem, antes de responder grosseiramente ao STF, pensariam em soluções rápidas e definitivas para a praga das cracolândias. Seus frequentadores não rendem votos. Por isso, os homens públicos tropeçam nos zumbis, mas fazem de conta que eles não existem.

É desse modo que caminham os parlamentares brasileiros. A melodia que eles tocam é para bobo dançar. Foi assim no Senado e vem sendo assim na Câmara dos Deputados, onde a ordem é tensionar e fazer de tudo para agradar um mito para o qual não há mais lugar no Brasil e no mundo. Portanto, incompetência daqui, incompetência dali e barreiras dacolá, o povo, ora denominado de contribuinte, ora de eleitor e sempre de palhaço, é o único a levar fumo. Enquanto isso, na Arca de Noé chamada Congresso Nacional, a fauna emplumada só se preocupa com o próprio rabo. Em outras palavras, o mar e o rochedo brigam, mas o afogado é sempre o bagrinho. Referendadas pela elite, essas são algumas das nocividades das Casas de Noca. Como pilombetas no cio, os eleitos pelos bagrinhos, o povo, querem que o povo vá para a casa do Carvalho.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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