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Denúncia vazia

Brilho da Vênus Platinada explica nocaute em Bolsonaro de joelhos

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior* - Foto de Isaac Nóbrega

Meses antes das eleições presidenciais de 2018, o Brasil e os defensores da democracia a qualquer preço acordaram assombrados com a informação de que, caso eleito, o candidato Jair Bolsonaro acabaria com a TV Globo, também conhecida como a emissora do Plim Plim. Nos discursos previamente gravados ou nas colas repassadas por assessores de jornada eleitoral, a ordem era copiar a verborragia e o melhor estilo do ditador venezuelano Nicolás Maduro. Nos palanque e nas amadoras lives, o futuro mito anunciou a chamada bomba com o estardalhaço que lhe é peculiar.

Ele tinha certeza de que a bravata certamente agradaria seus já enlouquecidos apoiadores, mais tarde – e até hoje – eriçados fanáticos do dia seguinte. Do dia seguinte, pois, como algo interrompido por razões de competência, até agora nada se cumpriu. As promessas de campanha se perderam nos sanitários da Esplanada dos Ministérios, mais especificamente nos mictórios do Palácio do Planalto. Todos lembram que a decretação da falência da TV Globo, Globo Lixo para os simpatizantes do ódio, era para o bolsonarismo uma questão de tempo. Não foi.

Passados três anos e sete meses, a Terra deu algumas voltas e acabou mostrando que nem tudo que reluz é ouro. Melhor dizendo, nem tudo que é torto é errado. Ainda mais verdadeiro e engraçado é como a vida mostra que nem tudo que queremos podemos ter. Em outras palavras, nem tudo na vida acontece como queremos, mas tudo que acontece, de bom ou de ruim, deveria servir de aprendizado. No caso da Globo, acho que serviu. Talvez tenha doído bastante, mas, após provas e contraprovas de que o planeta é realmente redondo, Bolsonaro e sua trupe se renderam ao Plim Plim e, agrade ou não, terão de recorrer aos préstimos jornalísticos (espero que só jornalísticos) da emissora da família Marinho caso ainda pensem na quase improvável reeleição.

O custo é alto. A emissora do Jardim Botânico acaba de receber um aumento de 75% de novos recursos publicitários do governo federal. Provavelmente virão mais. São as voltas que o mundo dá. Para os mais crentes, é a lei de causa e efeito. Aportuguesando a frase, aqui se faz, aqui se paga. E não custa acrescentar: leve o troco e volte sempre. Embora não fosse o único, o acerto de contas com a Globo era emblemático. Pelo menos parecia. Não foi diferente com a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), consideradas redutos de petistas e, por isso, sentenciadas à morte pelo então candidato.

Ambas continuam bem vivas. Da ECT pouco se fala, mas a EBC virou abrigo de militares reformados e apaniguados raivosos, aqueles cujo cuspe um dia cai sobre a própria fachada. O que era vermelho virou verde oliva. E assim a vida segue e continua sempre seguindo. Devagarzinho, mas remando sem parar, a gente vem logo atrás. Como presidente da República, Bolsonaro permaneceu candidato. Por muito tempo ele talvez tenha se achado um deus ou, na melhor das hipóteses, ungido pelos apóstolos do Bispo Edir Macedo e pelos pastores injustamente presos há duas semanas.

Tanto que achou que poderia mesmo cancelar a concessão pública da Globo. Mais uma ameaça vazia. A renovação de redes de televisão ou de rádio passa obrigatoriamente pelo Congresso Nacional. O poder do chefe do Executivo está limitado a posicionamentos contrários ou a favoráveis à renovação. Portanto, querer não é poder. Quando o calo aperta, descobre-se que o buraco é mais embaixo. Vida longa à TV Globo e longa vida à Record, Bandeirantes, TV Cultura, SBT, RedeTV e demais emissoras nacionais. Quem sabe em breve o Plim Plim não se redescobre Globo Luxo.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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