Sem adorar, só contemplar
Buda, símbolo do silêncio que desperta o homem
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Mais do que uma figura histórica ou religiosa, Buda é um símbolo universal do despertar da consciência. Sua imagem atravessou séculos, culturas e continentes não como imposição de fé, mas como convite ao silêncio interior. Onde há uma estátua de Buda, há uma pergunta implícita: quem somos quando cessam os ruídos do mundo?
Sidarta Gautama, o príncipe que abandonou o luxo para compreender a dor humana, é apenas o ponto de partida. No plano místico, Buda não é um homem específico, mas um estado de ser. Ele representa o instante em que o véu da ilusão se rasga e a mente deixa de se identificar com o sofrimento.
Por isso, no simbolismo budista, não se “adora” Buda — contempla-se. Ele não aponta para si, mas para dentro.
O corpo em meditação
A imagem mais conhecida de Buda é a do corpo sentado em lótus, coluna ereta, mãos repousando suavemente. Essa postura não é casual.
A coluna ereta simboliza vigilância e presença; as pernas cruzadas indicam estabilidade, enraizamento; o corpo imóvel ensina que a verdadeira revolução acontece sem movimento externo. É o corpo dizendo à alma: aqui estamos, agora.
Já as mãos de Buda falam uma linguagem silenciosa. Cada gesto — cada mudra — é um ensinamento:
Mãos unidas no colo (Dhyana Mudra): equilíbrio entre pensamento e intuição.
Palma tocando a terra (Bhumisparsha Mudra): o momento do despertar, quando Buda chama a Terra como testemunha da verdade.
Mãos erguidas (Abhaya Mudra): ausência de medo, proteção, paz.
São gestos que lembram: a serenidade também é uma ação.
Ver sem julgar
Os olhos de Buda raramente estão totalmente abertos ou fechados. Estão entre mundos.
Esse detalhe carrega um simbolismo poderoso: ver a realidade sem se perder nela. Não fugir da vida, mas também não se deixar capturar por suas ilusões.
É o olhar de quem observa o fluxo sem tentar controlá-lo.
Sorriso sutil
O sorriso de Buda não é de alegria ruidosa. É quase imperceptível.
Ele simboliza a compreensão profunda de que tudo é impermanente — inclusive a dor. Não é um sorriso de triunfo, mas de aceitação lúcida.
Quem compreende a impermanência não se desespera nem se apega.
Arquétipo interior
No plano místico, Buda não está em templos nem estátuas. Ele habita o instante em que cessamos a guerra interna. Cada ser humano carrega um “Buda adormecido”, esperando apenas o silêncio necessário para despertar.
O simbolismo de Buda nos lembra que:
o sofrimento nasce do apego,
a libertação nasce da consciência,
e a paz não é algo a ser conquistado, mas lembrado.
Silêncio como ensinamento
Há uma lenda segundo a qual, certa vez, Buda foi convidado a fazer um grande discurso.
Em vez disso, ergueu uma flor e permaneceu em silêncio. Apenas um discípulo compreendeu.
Esse gesto resume todo o simbolismo de Buda. É que a verdade não se explica; simplesmente revela-se.
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Maria Aparecida é terapeuta holística