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O Lado B da Literatura

Caio Fernando Abreu, o escritor que nos deu os seus ‘Morangos Mofados’

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Autor/Imagem:
Cassiano Condé - Foto Acervo Pessoal

Caio Fernando Abreu, gaúcho de Santiago, foi jornalista, dramaturgo e premiado escritor, autor, entre outras obras, de ‘Morangos mofados’, aclamado pela crítica e pelo público. Seu estilo informal e muito pessoal, que fala de sexo sem rodeios, com as palavras que seriam ditas em uma conversa na mesa de um bar, Caio Fernando é um dos maiores expoentes de sua geração.

O nosso retratado, até por sua postura de falar sobre a própria intimidade, sem medo de expor sua fragilidade, é de uma coragem poucas vezes vista. Ele não refuta a angústia, parece até se alimentar dela, ao melhor estilo Caio Fernando Abreu, com todos os seus dramas vividos, de perseguido pela Ditadura Militar, da luta contra o vírus HIV.

Caio Fernando sucumbiu ao vírus, é verdade, no dia 25 de fevereiro de 1996, mas deixou um legado que faz com que seja redescoberto por novos leitores, muitos dos quais que nem eram nascidos enquanto o escritor batia o pé firme neste país, tão acostumado a lutar contra quem se predispõe a pisar nas feridas, muitas vezes camufladas, da nossa sociedade hipócrita.

O escritor era amigo do cantor e compositor Cazuza. O próprio Caio afirmava que os seus textos eram, muitas vezes, influenciados pelas músicas do antigo cantor do Barão Vermelho, além da eterna rainha do rock and roll nacional, a saudosa Rita Lee. Não por acaso, o escritor é tão lido ainda hoje em dia. Inclusive, também gostava de escrever ao som de música, além de recomendar a leitura de seus textos ouvindo tal canção.

Caio Fernando Abreu adorava trocar cartas com amigos. Várias dessas cartas acabaram sendo publicadas e, desse modo, o leitor pode se embrenhar no mundo do autor. Ali é o puro Caio, com seus conflitos interiores, seus amores, seus medos, momentos de risos. É uma forma prazerosa de conhecer ainda mais esse ser humano tão incrível.

Em 1994, Caio foi diagnosticado como portador do HIV, momento em que decidiu retornar para Porto Alegre para viver ao lado dos familiares. Dedicou-se à releitura de suas obras, reedições e novas publicações, além de continuar como jornalista. Também cultivou um jardim em sua residência no bairro Menino Deus e, em sua última entrevista, quando foi perguntado o que ele teria feito da vida caso não fosse escritor, respondeu: “jardineiro”.

A última morada do nosso retratado, infelizmente, foi demolida, mesmo sob protestos dos fãs, no dia 18 de julho de 2022. Deveria ter virado museu, mas a prefeitura da cidade não demonstrou interesse e, então, o imóvel foi vendido e veio abaixo. Como consolo, Caio Fernando Abreu foi proprietário e residiu em um apartamento no mesmo bairro, que ainda continua de pé. Por uma dessas coincidências, o imóvel pertence ao casal Dona Irene (colunista) e Eduardo Martínez (escritor/editor), nossos colegas aqui da redação do Notibras.

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Cassiano Condé, 81, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.

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