A lenda
Calcanhar de Aquiles, de metáfora a um sinal aos homens vaidosos
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Entre as brumas do tempo, onde a lenda se confunde com a história, ergue-se a figura de Aquiles, o mais veloz e temido dos guerreiros gregos. Forjado pela mão dos deuses e temperado nas águas do Estige, o herói nasceu para ser invencível. Mas a invencibilidade, como o ouro falso, brilha apenas até a primeira rachadura.
Conta-se que Tétis, sua mãe, mergulhou o filho nas águas sagradas do rio que separava o mundo dos vivos do dos mortos, segurando-o pelo calcanhar. Ali, onde a pele não foi tocada pela corrente divina, permaneceu uma falha invisível. E o destino, paciente como é, esperou o momento certo para revelar a fraqueza.
Na Guerra de Troia, os deuses assistiam, ora impassíveis, ora vingativos, ao duelo entre a soberba dos homens e os caprichos do Olimpo. Aquiles, armado com a couraça de Hefesto e guiado por sua fúria, fez da guerra um espelho de si mesmo: um campo onde o heroísmo e a morte dançavam lado a lado.
Mas o oráculo já havia falado: ele viveria uma vida longa e obscura, ou uma curta e gloriosa. E Aquiles escolheu a chama, não a cinza. Quando Páris, guiado por Apolo, disparou a flecha que encontrou o calcanhar do herói, não foi apenas um corpo que tombou. Foi o próprio mito da perfeição que se rompeu.
Assim, o calcanhar de Aquiles não é só uma metáfora da fragilidade humana. É um lembrete místico de que até os imortais carregam um ponto de sombra. E que a grandeza, sem humildade, cedo ou tarde, encontra sua própria flecha.