Político sem truques
Candidatos do acaso e do ódio talvez tenham de esperar o ocaso de Lula
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Como dizia o meu, o seu, o nosso Hermeto Pascoal, o bruxo dos sons, do lixo ao avião, em tudo há o tom. É a mais pura verdade. A liberdade e a facilidade que ele tinha com os tons dos sons nós nunca teremos para descobrir que a democracia é o principal caminho para as liberdades, inclusive a de expressão, reconquistada com a Constituição de 1988. Desde que se considere o limite e respeito entre as pessoas, não há caminho mais curto para a felicidade plena do que a liberdade para viver. Ela ainda é o melhor antídoto contra os bárbaros, golpistas e, principalmente, contra aqueles que amam viver à margem da lei.
Embora a perspicácia dos conservadores não alcance essa plenitude, é bom reafirmar que liberdade e democracia são irmãs siamesas e que ambas, independentemente da linha ideológica, fazem bem para o coração, para a alma e, sobretudo, para a convivência pacífica entre os diferentes. Ouço dizer que a esquerda não sobrevive à próxima eleição presidencial. Não apostaria nisso nem R$ 3. Também ouço diariamente que, após a ascensão de Donald Trump, a direita cresceu e cresce diariamente. Pode ser. O problema é que ela não aparece tanto quanto cresce.
Em se tratando de Brasil concordo com todos os que acham que estamos muito distantes do ideal de política social. No entanto, queiram ou não, após quatro anos de negacionismo, o atual inquilino do Palácio do Planalto resgatou a credibilidade internacional, devolvendo ao Brasil o respeito que o país sempre mereceu no mundo globalizado. Faz parte do jogo político a paixão partidária. Qualquer cidadão brasileiro pode – e deve – ser apaixonadamente contra ou a favor desse ou daquele líder partidário.
O que não é aceitável é o fato de, em nome dessa paixão, endeusar desmedidamente “patriotas” que tramaram quatro anos contra o Brasil e contra os brasileiros. Também não é permitido tentar derrubar um presidente eleito, ainda que esse presidente seja considerado um péssimo exemplo de honestidade. Venha de onde vier, o futuro governante tem de se comprometer com a democracia. Caso contrário, como dizem os sábios, dificilmente logrará êxito. E não adianta se valer de uma falsa e inventada polarização. Essa farsa existiu enquanto existiu Jair Bolsonaro.
Como ele é carta fora do baralho, os candidatos do acaso precisarão se reinventar. Ou mudam o rumo da prosa e das campanhas, nas quais até a raiva é combinada, ou terão de esperar o ocaso de mais um Lula lá. Com o fim da tal polarização, candidatos da corrente mais raivosa serão obrigados a ter sempre duas opiniões no bolso da calça jeans. Uma é para ficar bem consigo mesmo, com o antagonista e com os ministros do Supremo Tribunal Federal. O governador Tarcísio de Freitas que o diga. A outra é para jamais esquecer que a política brasileira realmente é uma tragédia quando vista de perto e uma comédia quando vista de longe.
Infelizmente, por aqui política é sinônimo rasteiro de bajulação. O pior é que normalmente o bajulador esquece que ele é como o carvão: se apagado, suja os adversários; se aceso, queima quem estiver a seu lado. Sabedor de que não posso mudar as cartas de que disponho no jogo político, optei por mudar a estratégia de jogo. Desde que a mentira aprendeu a falar por aqui, eu não acredito mais em nada além do que duvido. Após descobrir que o ódio é igual a política, pois ambos causam danos, decidi contribuir com os eleitores que desejam ajudar qualquer candidato do ódio a trabalhar: Não votem mais nele até que ele resolva seguir o conselho de Hermeto Pascoal e seja político, só que sem truques.
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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais