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Vida difícil

Cansada dos abusos, Luciana despacha cafetão

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Aconteceu em uma capital nordestina. Luciana, que precisou se fazer mulher antes dos 13 anos, suava por todos os poros para colocar comida na mesa. Sem conhecimento e cheia de inocência, foi ludibriada por Romão, homem feito, que prometeu proteção e conforto à garota. Bastava ser boazinha e seguir as instruções dadas.

— Lu, meu amor, faça assim, que vai ser sucesso. Mas aquilo é apenas para quem tem os bolsos estufados. E nada de fiado, pois a praça está abarrotada de maus pagadores.

Apesar da repulsa por certos clientes, Luciana não teve coragem de contrariar o namorado. E assim foi sobrevivendo com a promessa de dias melhores, até que, após beirar os 20 anos, viu-se desenganada. Todavia, para não criar pendenga com Romão, percebeu que havia criado uma muralha para impedir que qualquer sentimentalismo escorresse pela face já acostumada com safanões. Era sina e precisava aceitá-la.

No seu aniversário de 36 anos, Luciana, tarimbada que havia se tornado, possuía uma clientela satisfeita e fiel com os serviços prestados. De tão competente que era, a mulher, vez ou outra, despertava paixões arrebatadoras. O mais notório caso aconteceu com o Osvaldo, recém-casado, que queria largar a esposa para se entregar à luxúria nos braços da Luciana. Todavia, profissional que era, sabia muito bem separar as coisas e tratou logo de colocar algum juízo na cabeça do homem.

Se Luciana conseguiu salvar o casamento do cliente, não se podia dizer que sua vida era um mar de flores com Romão. É que o homem danou a beber e gastar além da conta. Não importava quanto dinheiro a mulher conseguia fazer, lá ia o cafetão torrar tudo. Era um saco sem fundo, tamanha a gastança do gajo.

Cansada daquela situação, Luciana, assim que retornou ao seu apartamento após uma noitada bastante movimentada, encontrou Romão esparramado no sofá. Várias latas de cerveja vazias ao lado e no tapete. De tão grogue, o homem apenas abriu os olhos e resmungou algo ininteligível. A mulher sacou um bolo de notas da bolsa, separou algumas cédulas graúdas e as atirou no rosto do sujeito.

— Romão, acabou a sopa de minhoca! Pegue as suas coisas e suma daqui!

*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.

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