Pesadelo à vista
Capachos do Congresso assumem vassalagem ao mito e jogam o Brasil no buraco
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Fazer oposição é legal. É do jogo político. Ilegal é se eleger como democrata e virar tirano antes da primeira curva, não abrir mão das vantagens pessoais e, ao mesmo tempo, deixar de contribuir com soluções propostas pelo governo para minimizar as mazelas econômicas do país. É isso que eles chamam de justiça social? Eleitos para defender o povo, suas excelências não conseguem pensar além do próprio bolso e dos pedidos de sua alteza real Jair Messias Bolsonaro. São capachos assumidos. A derrubada do IOF foi a prova final da vassalagem de nossos parlamentares à seita bolsonarista. Por isso, a ameaça ao futuro do povo brasileiro e a óbvia torcida pela queda definitiva do país no buraco mais profundo.
A se confirmar o sonho da elite brasileira, é bom nos prepararmos para um longo pesadelo. Está chegando a hora do contribuinte, apelidado eleitor a cada quatro, começar a rezar. O que pode estar por trás da necessidade visceral, desumana e criminosa de Bolsonaro lutar até a prisão para recuperar o poder? Seria um recado do além ou das profundezas? Seria um compromisso assumido e não cumprido com o reizinho Donald Trump? Será que faltou alguma coisa menos republicana a ser incluída no acervo da família? Quem sabe algo que sabidamente Lula da Silva incorporou e ele (Bolsonaro) não conseguiu! Aparentemente, o sonho da perpetuação de um e de outro é somente a ambição pelo comando.
Estamos a milhares de quilômetros do Oriente Médio. A distância não é empecilho para o Brasil abrigar a céu aberto um meio irmão do carniceiro, xenófobo, racista e homofóbico Benjamin Netanyahu. Se alguém duvida, que atire a primeira pedra. Como cristão, torço pelo final feliz daquele presidente que perdeu o reinado sem ter dito a que veio. No entanto, como cidadão e, principalmente, como amante da liberdade, nem tento policiar meus ímpetos demoníacos contra todos os que um dia brincaram com o que há de mais sério e importante para qualquer sociedade: a democracia.
Não há hipótese de me associar sob qualquer argumento àqueles que divulgam mentiras e destilam ódio vencido e apodrecido na direção dos que se opõem às teses golpistas de um grupo que perdeu a disputa eleitoral dentro das quatro linhas constitucionais. Acordado, o Deus verdadeiramente acima de tudo e de todos mostrou ao líder tupiniquim do caos que o aprendizado sobre a convivência humana nos alcança de duas formas: pelo amor e pela dor. Causador de numerosos estragos à democracia e aos democratas, o dele veio pela dor. O que mais lamento a insistência como ele e os seus incluem a vida e a honra na barganha pelo poder.
Fosse realmente um democrata, certamente o citado ex-presidente mereceria verbetes de prestígio, algo como aquele tablete de chocolate recheado com côco. Sem dolo e sem nenhuma satisfação, o que posso adiantar é que, para sorte do Brasil e da maioria dos brasileiros, os mitos não morrem, mas saem de circulação, somem na poeira do Cerrado. Mesmo condenados e diariamente adjetivados de ladrões, os anjos são capazes de ressurgir e de reencarnar uma, duas, três e, quem sabe, quatro vezes. Anedoticamente, talvez seja o caso de lembrar que, para um imbrochável, há sempre um imorrível como contraponto. Sei que Luiz Inácio é considerado lenda pelos fanáticos que acham que Bolsonaro é um mito.
Também sei que são desconhecidas as aptidões lulistas para Deus e para bruxo. Entretanto, quer queiram ou não, ele é temporariamente o dono do poder. Afinal, foi eleito presidente da República por maioria de votos. Isso ninguém vai lhe tirar. De minha parte, esclareço pela enésima vez que não tenho nenhuma simpatia pelo PT. Por força das circunstâncias, fui levado a votar na legenda nas duas últimas eleições gerais. Não conto nem sob vara se sorri ou se chorei após o resultado e depois de dois anos e meio de gestão. O que posso recontar é que, em 2023, Lula quase morreu, mas este ano ele não morre. Provavelmente nem no próximo. O que ainda não sei é se os corvos permitirão que Lula governe caso seja reeleito em 2026. Sobre sua saúde, depois do chip da última cirurgia para estancar uma hemorragia intracraniana, ela está melhor do que mel na chupeta.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978