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Pasárgada

Carta a um ”eu lírico”

Publicado

Autor/Imagem:
Edna Domenica - Foto Francisco Filipino

Quando eu o vi, “um anjo torto
desses que vivem na sombra disse”:
– Vai, ver seu amado “ser gauche na vida”.

Você era um “homem atrás do bigode”: “sério, simples e forte.”
Que quase não conversava.
Tinha “poucos, raros amigos”
um “homem atrás dos óculos e do bigode”…

Ah! Seu bigode!…
“A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.”

Ah! Amado, que saudade daquela pedra
Que virou metáfora no meu caminho.

Já anoiteceu…
“Eu não devia te dizer”, mas aquela lua
botava a gente comovida “como o diabo”.

Mas só você, só…
“você foi o meu astro derradeiro
Meu amigo e companheiro
No infinito de nós dois.”
Amor, estou saindo agora
pra encontrá-lo em Pasárgada…
Levo o seu porquinho da Índia e…
Suas “palavras sobretudo os barbarismos universais
Suas “construções sobretudo as sintaxes de exceção”
Seus “ritmos sobretudo os inumeráveis…”
Já estou quase chegando a Pasárgada…
No nosso encontro “o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare.”

Espero você…
“Não se perca de mim
Não se esqueça de mim
Não desapareça
A chuva tá caindo
E quando a chuva começa
Eu acabo de perder a cabeça”
“É, meu amigo, só resta uma certeza
É preciso acabar com essa tristeza
É preciso inventar de novo o amor”.
Espero você na “Rua Nascimento Silva, 107.”
Eternamente tua,
Elizete.

…………………….

Edna Domenica é autora do livro sobre oficinas de criação literária, Aquecendo a produção na sala de aula, Nativa, 2001 e De que são feitas as histórias. Edição da autora na Gráfica Postmix, 2014. E do livro de poemas Cora, coração. Nova Letra, 2011.
Do livro MEROLA, Edna Domenica. De que são feitas as histórias PP 30, 31.

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