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Ceilândia

Cassiano, o vizinho perfumado que começava a dividir casais no prédio

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Clarice andava tristonha. Não que isso não fosse comum, ainda mais depois que, do nada, Jofre arrumou as malas e até arriscou sair de casa. Quer dizer, não foi propriamente do nada, já que até os vizinhos menos curiosos não deixaram de ouvir os gritos desesperados da mulher suplicando para o marido não fazer aquilo. E aquilo, não era mais segredo, teria sido consequência de uma desavença conjugal, que, para muitos, seria uma bobice sem tamanho.

— Bobice?

— Sim, meu amor, bobice tua!

— Minha?

— E de quem mais poderia ser, Jofre?

— Hum! Vá perguntar pro seu namoradinho do terceiro andar.

— Que namoradinho o quê, Jofre?!

Para esclarecer quem era o tal namoradinho do terceiro andar, digo-lhe que se tratava de Cassiano, tipo quase comum, caso não fosse pelo costumeiro perfume que parecia inebriar as moçoilas desavisadas, fossem inocentes ou não. Também conseguia atingir em cheio as narinas das compromissadas, incluindo nesse bojo indivíduos de gêneros distintos.

Ilda e Osvaldo formavam um dos mais apaixonados casais do edifício. No entanto, parece que isso não foi suficiente para impedi-los de discutir justamente por causa do vizinho de porta, cujo aroma era percebido até mesmo através do buraco da fechadura. E, por mais que as aparências tentassem camuflar os desejos, os olhares em direção ao sujeito gritavam, como se implorassem por um pouco de atenção.

— Feitiçaria!

— O quê?

— Feitiçaria, sim, senhora Ilda!

— Tá maluco, Osvaldo?

— Você ainda não me viu maluco, Ilda!

— Hum!

— Hum, o quê?

— Hum! Hum!! Hum!!!

Diante da imposição da esposa, Osvaldo tratou de colocar o rabo entre as pernas e sair de fininho. Foi até tomar um ar fresco nas partes comuns do prédio, onde encontrou Jofre e mais alguns maridos contrariados com o morador perfumado. Não tardou, começaram a confabular, mas sem perder a pose.

— E aí, galera?

— Opa!

— Tudo bem?

— Ah, a mesma coisa de sempre.

— Pois é.

— Mas tá bom, né?

— Ih, se melhorar, estraga.

………………..

Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’

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