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Mandato torto

Castelo de Trump começa a ruir como Roma de Nero

Publicado

Autor/Imagem:
Antonio Eustáquio Ribeiro - Foto de Arquivo

Donald Trump iniciou este seu segundo mandato nos EUA com toda a prepotência e o histrionismo que lhe são tão peculiares. Incensado pela vitória no colégio eleitoral e também nos votos nominais, deu todas as demonstrações de que seu ego havia rompido o limite do impensável, se é que há alguma loucura impensável quando se trata de Trump.

Ainda nos anos 1990, um dos marqueteiros que levou Bill Clinton à presidência dos EUA cunhou uma célebre frase que se espalhou e acabou se tornando um mantra em campanhas eleitorais: é a economia estúpido. Ele quis afirmar que são as questões econômicas do dia a dia na vida das pessoas que é determinante para um desfecho positivo ou negativo numa eleição.

Naquele momento ele pareceu estar certo, ajudou a levar Clinton ao governo por dois mandatos. Hoje, embora ainda muito importante, a questão econômica não é tão determinante assim, pois o avanço do extremismo de direita eclipsou a visão de inúmeros eleitores, fazendo com que outras pautas também estejam presentes no debate eleitoral, o que no Brasil é facilmente perceptível haja vista as últimas eleições presidenciais.

Porém, não se pode, nem se deve, desconsiderar as questões econômicas, pois ao fim e ao cabo, as pessoas, os eleitores, vivem seu dia a dia com preocupações prioritariamente voltadas para as condições de vida, se haverá dinheiro para as contas do mês, se conseguirão comprar alimentos, se conseguirão pagar a escola e o seguro-saúde, especialmente nos EUA, sabidamente um país cujos custos são muito elevados.

Dito isto, o embaçamento de visão de Trump, inebriado pelo poder de um mandato supostamente divino que imaginava ter recebido dos eleitores, mesmo estes não representando sequer a metade dos habitantes do país, parece que se esqueceu desta questão básica, é a economia estúpido. E o que tem se assistido nos EUA é uma elevação consistente do custo de vida, acompanhado do corte de benefícios para os mais pobres e da elevação do desemprego, receita clássica do neoliberalismo. E com isso a derrocada em curso de sua aprovação.

Pesquisas feitas recentemente mostram que a desaprovação do governo se situa em 57%, um número muito elevado para quem não completou sequer um ano de mandato. E eis que surge uma eleição no caminho, que embora não seja tão extensa, colocou em disputa cargos emblemáticos como a prefeitura de Nova Iorque e os governos estaduais de Virgínia e Nova Jersei.

Colhidos os votos, o partido de Trump colheu derrotas fragorosas, e, como não poderia deixar de ser, a de Nova Iorque, por tudo que representa aquela cidade na vida real e no imaginário mundial, foi a mais eloquente. Mas a derrota se estendeu para muito além disso, e os democratas venceram as eleições para os governos estaduais, elegeu juízes e procuradores em alguns estados, derrotou plebiscitos no Maine que alteraria critérios eleitorais naquele estado que beneficiariam Trump e, por outro lado, aprovou em plebiscito alterações na Califórnia que podem colocar mais cinco deputados democratas no congresso americano nas eleições de meio de mandato de 2026. Tudo o que Trump não queria, e tudo o que recebeu.

Políticas agressivas de tarifas alfandegárias, principalmente, contribuíram para elevar o preço dos produtos nos EUA, pois muito além do discurso simplista de que com isto estava trazendo de volta os empregos para os americanos, o fato é que o tarifaço não está sendo suficiente para que plantas industriais abandonem seus atuais habitats, principalmente o sudeste asiático, e voltem para os EUA. Até porque são muitas variáveis a serem consideradas quando uma empresa se instala em um determinado local, e não apenas questões tarifárias. Resultado, produtos mais caros, menor consumo, menos emprego.

A continuar com esta lógica torta de mandato, e tudo leva a crer que será assim em função de seu perfil e histórico, em 2026 espera-se uma derrota que manietará completamente o governo de Trump. Lá serão renovados todos os mandatos da Câmara dos Deputados e um terço do Senado, impactando fortemente a composição do Congresso, que pode se tornar majoritariamente de oposição. E como se sabe, embora Trump possa muito, ele não pode tudo, e o Congresso Americano detém instrumentos que podem dificultar bastante as iniciativas governamentais. Oxalá Trump continue com a visão turva e torta, e 2026 se assistirá a derrocada completa do castelo que ele construiu em torno de si. Ou será que ele, assim como tentou em 2021, mais uma vez tentará um golpe, destruindo por completo um dos maiores orgulhos dos norte-americanos, a solidez e a longevidade de sua democracia?

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Antonio Eustáquio é correspondente de Notibras na Europa

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