(in) volução
Cenário modernista é uma ilusão onde temos prato vazio e o wi-fi na mão
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Vivemos em um tempo onde as pessoas se orgulham de avanços tecnológicos, de sua inteligência artificial e da globalização econômica. No entanto, por trás dos arranha-céus de vidro e dos relatórios trimestrais de lucro, ainda pulsa algo primitivo e arcaico. Um modelo de sociedade que, em muitos aspectos, opera com base na força, na dominação e na disputa pelo território. O progresso não eliminou os impulsos mais cruéis; apenas os revestiu de terno e gravata.
Nesse cenário, o sistema econômico se organiza em torno da competitividade extrema, onde o mais adaptado sobrevive, mas, curiosamente, nem sempre é o mais ético. O discurso da meritocracia se impõe, mas ignora a desigualdade de partida. Há algo quase tribal na forma como as riquezas são acumuladas por poucos, enquanto muitos lutam para garantir o básico do básico.
A lógica que rege esse sistema não é exatamente calculada, ainda que se embale com números e planilhas. Há nela algo de brutal, de visceral, que revela muito sobre a natureza humana, ou, talvez, sobre o que fizeram dela.
E assim seguimos: com wi-fi na mão, mas fome no prato; com inteligência artificial no topo, e instinto de sobrevivência na base. A civilização se vangloria da ordem, mas é regida pela selvageria.
No fim das contas, continuamos evoluindo por fora, enquanto carregamos por dentro os mesmos instintos de dominação e exclusão. A civilização avança, mas o abismo entre os que mandam e os que obedecem cegamente, continua aumentando. Talvez o maior desafio do nosso tempo não seja criar novas tecnologias, mas reconfigurar o que entendemos por humanidade.