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Velhas tradições

Cesta de pinhão resgata Natal da infância feliz

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto de Arquivo

Aconteceu logo ali, numa das quadras da Asa Norte. O Natal que se aproximava, mais um entre tantos que aquele velho vivenciara ao longo de décadas e décadas, como se todos, ao menos até agora, fossem iguais ou, no mínimo, quase a repetição de um hábito. A mulher mandou que ele fosse comprar pinhão, pois era uma tradição que ela adorava manter na família, cada vez mais dispersa.

Já na calçada, o velho caminhou até o mercado da esquina, onde sabia que o preço era mais atrativo, especialmente naquela época do ano, onde tudo custava os olhos da cara. Observou a multidão tentando engalfinhar os diversos produtos, como se fosse a última chance de conseguir algo único, apesar das centenas de réplicas logo ali ao lado. Estacou em frente a uma das gôndolas, onde se assustou com o preço da iguaria.

– Dois quilos, por favor.

Enquanto esperava, notou dois moleques sorridentes carregando uma caixa contendo uma árvore natalina, dessas de montar. Tudo de plástico, nenhum cheiro de pinheiro de verdade. Isso, aliás, o transportou para o seu longínquo tempo de criança. Tanto tempo, que imaginou que se tratava de apenas mais um devaneio, como se aquilo jamais pudesse ter existido.

Nessa época, era apenas um menino. Talvez dez, onze anos. O importante é que se lembrava de que era apenas um garotinho, não mais que isso. Diante de sua avó, ele prestava atenção nas histórias de outros natais, bem mais antigos que todos os que ele havia vivido. Enquanto escutava a agradável voz daquela velha, o então menino grudava pedaços de algodão naquele pequeno pinheiro, como se fossem flocos de neve. Tudo isso lhe parecia ridículo hoje em dia, mas era uma diversão naquela época tão distante. Um sorriso emoldurou a face enrugada do agora velho, que, logo em seguida, foi despertado por uma voz rouca.

– Aqui está o seu pinhão!

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