Piolhos pubianos
Chatos já começam a achar chata chatice de ser chato
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Também conhecidos como piolhos pubianos, os chatos estão na moda. São militantes tentando impor ideologias, religiosos fanáticos obrigando amigos, familiares e vizinhos a ceder um minutinho para ouvir a palavra da Bíblia, subalternos oferecendo almoços recheados de segundas e terceiras intenções, além daqueles que, assumindo a posição de catequista, se imaginam em um circo e destilam piadas sem graça com coisas sérias. São os cupanheiros que, a partir da tríade pátria, família e liberdade, começaram a se achar mais importantes do que o dono e criador do universo.
Um chegou a ter certeza de que era o filho preferido do Mestre. Tanto que, após um milhão de blasfêmias e de outro milhão de mentiras, em breve começa a pagar suas contas com o STF por conta da chatice inventada para desacreditar a camarônica urna eletrônica e, principalmente, por tentar ganhar na marra uma disputa que perdeu no voto. Não apenas por isso. Cansou de usar a Voz do Brasil para chamar de ladrão seu principal adversário político, mas se esqueceu que o termo ladrão tem duas vias: a que já foi e a que ainda virá.
A chatice do politicamente correto tornou o mundo tão chato que até os mais chatos já começam a achar chata a chatice de ser chato. O problema maior é que, em um mundo chato, um simples elogio pode se transformar em um processo judicial. Eu não reajo com grosseria, tampouco com picardia. Prefiro reagir com outra coisa que também arde, mas não é pimenta. Entendam como quiserem, mas está cada vez mais complicado conviver com os que acham que líderes forjados em carpintaria são mitos. Não passam de pequinês com complexo de Pitbull. Pior ainda são aqueles que, loucos por um acento em uma das duas casas do Congresso ou em qualquer parlamento do país, avaliam a política como profissão.
Meu vizinho de porta ou meu professor de balé podem ser evangélicos, católicos, budistas, espíritas, Power Rangers, gays, lésbicos, punguistas de braguilha, bolsonaristas, lulistas e até trumpistas. O que não aceito mais no mundo moderno é a chatice dos militantes de um e de outro tentando me obrigar a pensar como eles. Na prática, abri mão das chatices da vida. Por exemplo, sei que é chato ser bonito. Tão chato que optei por não ser. Ainda aguento quando as meninas velhas insistem em me denominar de pequena empresa. É a chance que tenho de mostrá-las um grande negócio. Aos amigos de infância que só conheci na velhice digo sempre que hoje estou em outra vibe.
Não tenho ideia do que seja, mas foi a forma que encontrei para informá-los sobre minha articulada desinformação. Continuo fã do Aurélio, mas permaneço intolerável a termos recém-inventados e que só servem para me deixar pudibundo. Neologismo inerente aos velhos, o etarismo é um deles. Sou um deles, mas, antes que digam ou pensem alguma coisa, me apodero da inteligência de Ariano Suassuna para lembrar que a terceira idade é para fruta ou para calo depois da pomada milagrosa: fica verde, amadurece, apodrece e cai.
Como disse, sou um chato honesto, egocêntrico e narcisista. Por exemplo, nos bons tempos fui igual a um Maverick: bonito, na moda, potente e desejado. Hoje só bebo. Mas sou feliz e, às vezes, me sinto um garanhão deslumbrado. Prova disso é que, em uma confissão recente, perguntei ao padre se podia me considerar um garanhão. Expliquei que a razão era simples: toda noite na cama é uma, duas, três e, conforme o dia, quatro. Antes que chegasse na quinta, o sacerdote me expulsou do confessionário gritando para que todos ouvissem: “Além de chato e mentiroso, você é um cagão”. O que fazer se é a vida que tenho!
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras