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Assassinato na 415 (*XI)

China, traficante, entrega os ‘matadores’ de Susana

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Reprodução

O escrivão Gilmar mal entrou na delegacia do Paranoá e percebeu que aquele plantão noturno seria muito mais longo que o esperado. Quatro viaturas da polícia militar paradas no local, vários policiais aguardando a sua vez. Qual seria o primeiro flagrante?

O delegado Antônio Eduardo, que estava cobrindo um colega naquela noite, olhou para Gilmar. Disposto a meter logo a mão na massa, chamou a primeira guarnição, que trazia um caso de violência doméstica. Pouco mais de 30 minutos, passou para o seguinte.

A situação era de tráfico de drogas, mais precisamente maconha. Uma bela quantidade, diga-se de passagem, mas nenhum comprador conduzido. Isso, aliás, não seria empecilho para tombar o flagrante. Isto é, não seria se tal fato não tivesse acontecido. O traficante, velho conhecido, pediu para “ter um particular” com o Gilmar. Não que o escrivão fosse amigo do criminoso, mas já o conhecia de outras prisões.

Gilmar pediu para dois agentes levarem Cristiano, vulgo China, até a sua sala. O traficante foi algemado à cadeira em frente à mesa do escrivão.

– Seu Gilmar, sei que caí bonito. Mas tenho uma coisa que talvez interesse ao senhor.

– Tá querendo me subornar, China?

– Claro que não, seu Gilmar!

– Qual é o caso, então?

– Sei quem matou a mulher daquele cana.

– Que mulher? Que cana?

– O tal da Asa Norte. O que tá preso.

– E quem foi?

– Preciso da sua palavra de que vai interceder por mim nessa parada de agora.

Gilmar olha bem nos olhos do traficante. Ele sabe que muitos bandidos utilizam de falsas delações para serem beneficiados. No entanto, o escrivão decidiu acreditar no China. Foi até a sala ao lado e chamou o delegado.

Contou-lhe o que acabara de ouvir.

– Sério?

– Parece que sim, doutor.

Logo depois, lá estava o China diante do delegado e do escrivão. Com a promessa de desqualificar o possível tráfico para uma simples posse de entorpecente para uso próprio, China decidiu contar tudo o que sabia.

Na madrugada do primeiro dia do ano, ele estava fazendo seu comércio costumeiro no final da Asa Norte. Um grande cliente, que morava no prédio em frente ao de Marcelo, o havia chamado para uma entrega. China, que gostava de atender com presteza sua clientela VIP, foi até o apartamento do tal comprador. E foi justamente quando ele estava lá que pararam dois carros, uma Hilux preta e um Golf prata.

China fez uma pausa para ver se o delegado e o escrivão continuavam interessados. Pegos como moscas no mel, os policiais quiseram saber o que aconteceu depois disso. O traficante, então, disse que saíram seis homens dos veículos. Eles arrastaram um homem e uma mulher. Eles subiram até o apartamento do primeiro andar.

– Como você sabe disso?, perguntou Antônio Eduardo

– É que a luz do apartamento foi logo acesa.

– E daí? O que aconteceu depois disso?, o delegado quis saber.

– O que aconteceu, não sei. As cortinas estavam fechadas. Só sei que os seis homens desceram depois de alguns minutos e foram embora.

– Anotou as placas dos carros?, o delegado perguntou.

– Nem precisei fazer isso.

– Por quê?, Gilmar perguntou.

– Tá tudo filmado, seu delegado.

China havia gravado tudo no seu celular. No entanto, com receio de que aquilo pudesse lhe trazer problema, criou um e-mail e enviou o arquivo. Ele mostrou o vídeo para o delegado e o escrivão. Os policiais se entreolharam e sorriram. O acordo iria ser cumprido.

Antônio Eduardo chamou os policiais militares e disse que a situação não seria de tráfico de drogas, pois não havia filmagem nem comprador. Eles nem questionaram a decisão do delegado, pois sabiam que ele era a autoridade policial e, portanto, decidia pela tipificação criminal.

*O folhetim está quase no fim. Terça, 21, tem novo capítulo

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