Camisa ideológicas
Ciro, que usa a 11 e já vestiu a 17 e a 22, está pronto para lavar e vestir a 13 de novo
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Na vida, há os que usam, em vão, o nome de Deus, os que só pagam o dízimo se houver retorno, os que não dão ponto sem nó, isto é, agem somente com segundas intenções e os que elogiam o adversário quando há a possibilidade de alguma vantagem ou benefício pessoal. Uns mais, outros menos, mas milhares de brasileiros – talvez milhões – são verdadeiros protótipos das expressões. Alguns se enquadram no significado literal das frases. Conheço muitos, todos ligados aos extremos da política. Entretanto, poucos são a imagem e semelhança do oportunismo como o senador Ciro Nogueira (PP-PI), o político que já vestiu a camisa 17, a 22, costuma jogar com a 11, mas, para não perder a boquinha, topa voltar a se sentar no banco do 13.
Faz tempo que defendo a tese de que ninguém muda de um dia para o outro. Não há hipótese disso, principalmente se o ninguém é alguém oportunamente ligado à extrema-direita, mas que não se acanha de pousar onde houver segurança, mesmo que o ninho seja da esquerda diabólica e lulista. De posse dessas análises performáticas do cidadão piauiense, quero mudar de ideia a respeito do ex-todo poderoso ministro de Jair Bolsonaro, ex-aliado de Luiz Inácio, ex-seguidor de Dilma Rousseff e ex-qualquer coisa que o mantenha no poder. Sem as botas de Bolsonaro para lamber e, por isso, com chances remotíssimas de se reeleger, o ainda senador é daqueles que agem de acordo com a situação, mas pensam e mudam conforme cada decisão.
Luiz Inácio Lula da Silva é o dono da bola e das camisas. Por isso, nada mais natural que seus detratores quase diários mudem de ideia a cada nova pesquisa de opinião de votos. No caso do parlamentar progressista, o ridículo vai e vem a cada minuto. Parafraseando o mestre Aparício Torelly, o Barão de Itararé, triste não é mudar de ideia. Triste é não apresentar uma ideia palpável para mudar de ideia. Não faz muito tempo, Ciro anunciou que estava próximo o desembarque do Progressistas e do União Brasil do governo Lula.
Além da debandada, o presidente nacional do PP associou a crise político-econômica do país ao líder petista, jurando que a solução das mazelas nacionais passa obrigatoriamente pela vitória da direita nas eleições de 2026. O tempo passou e ninguém desembarcou. Fonte preferida de setores sabidamente conservadores da imprensa brasileira, Ciro Nogueira, tão de repente como percebeu sua iminente derrota em seu Estado de origem, passou a elogiar Lula. Na verdade, nem foi tão de repente. O esquenta no clima entre o presidente do Brasil e seu colega norte-americano foi decisivo para a mudança de humor do quase ex-senador.
Embora mantenha o mimimi e tente minimizar o discurso favorável ao petismo, Ciro já reconhece que Luiz Inácio é o favorito para a eleição presidencial de 2026. Segundo ele, Lula “é um avião que está voando sozinho, mas que voa baixo”. Meu caro senador da República Petista do Piauí, e precisa voar alto contra esse bando de abutres sem asas da extrema-direita? Embora prefira fingir que acredita na consolidação de um nome da oposição, o antipático e antidemocrata bolsonarista sabe que não. Para não passar recibo, o ex-queridinho do clã Bolsonaro diz que a alta de Lula nas pesquisas é temporária e que o desempenho deve cair com o surgimento de um nome forte da direita.
Poucos no espectro oposicionista têm mais informações acerca da derrocada da direita do que ele. Ciro sabe que a direita não tem e não terá tão cedo um nome mais ou menos para enfrentar Lula. Sabe também que o piloto da nave que só voa em círculo está com o brevê comprado na Feira de Acari cassado. Portanto, quando o teco-teco em que vossa excelência pretendia embarcar tentar decolar, o Airbus presidencial estará longe. Ou seja, se vosmecê está jogando verde para colher maduro, corra para a Venezuela antes que seu câncer tenha mais letalidade do que o do Maduro.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978