Doença terminal
Colapso mental transforma bebês reborns em histeria coletiva
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Soube pelos espíritos que meu primeiro gesto após deixar o ventre de my mother foi balançar o bilau para my fother. Não fiz por mal. Parafraseando o ex-presidente Jânio Quadros, fi-lo porque qui-lo. Talvez tenha sido grosseiro, mas mostrei ao Brasil e ao mundo que eu não era um bebê reborn. Fruto de um comparecimento bem cumprido, nasci de carne e osso e já como membro da facção da picardia, da masturbação sociológica, da normalidade e, principalmente, da turma que não aceita imbecilidades, tampouco se imbecilizar. Falando sério, então eu sou normal. Acho que nem tanto.
Pelo menos não rasgo dinheiro, não pago dízimo a falsos profetas e não contribuo com PIX destinado a enriquecer políticos mal-intencionados e que se acham acima do bem e do mal. Resumindo, estou parcialmente livre da idiotização ideológica, da rebeldia sem causa, do golpismo sem objetivo, do patriotismo fajuto, da lavagem cerebral da direita ou esquerda e, agora, da febre pela maternidade ou paternidade de bonecos sem vida, sem biometria e sem voto. Já ouvi dizer que a humanidade está doente. Em alguns casos, bem próxima da loucura total.
Discordo, pois as pessoas sérias e comprometidas com algo de bom não têm tempo para se dedicar a visões extraterrestres, a fetiches humanamente animalescos, muito menos tempo para ninar bebês de plásticos como o cérebro de suas “mães” e “pais”. Já os pobres não dispõem de recursos para comprar meninos ou meninas reborns. Portanto, trata-se de mais um modismo da elite mal-amada, mal usada sexualmente e mal-lavada e de dondocas tóxicas e inúteis, mas arrogantemente apelidadas de influencers. Começo a achar que é melhor que elas só criem bebês reborns. Imaginem essas mulheres procriando bebês de verdade. Deus nos livre!
Depois de algumas décadas de vida, imaginava ter visto de tudo. Me enganei redonda, quadrada e enviesadamente. Não me surpreendi com o movimento hippie, com o amor livre, a minissaia, o topless, o sexo grupal, o trisal, o punk rock, a new wave, o descrédito a Papai Noel e o rap. Embora extravagante, também não me assombrei com o homem na lua, com a liberação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, com a Lei Maria da Penha, muito menos com o título do Botafogo, após 30 anos de jejum. Parecia até coisa de português. E foi. Vi a imbecilidade e a insanidade humana financiar, produzir e executar golpes e guerras mortais.
Vi políticos entrando e saindo do Congresso com fama de ladrão, mas nunca tinha visto aves de rapina entrando e saindo do Congresso pela porta da frente. O pior foi a criação de vários brasis comandados por políticos que nunca souberam o peso, o valor e a importância do termo política. Da inteligência artificial à idiotização política, tudo virou pasmaceira. Na prática, a vida transformou-se em uma doença terminal. Talvez nem todos saibam, mas a humanidade está doente. Prova disso é a popularidade dos bonecos reborns. Venho me perguntando em que momento a civilização decidiu fingir que um boneco é um ser humano. Eu mesmo respondo. A bizarrice está ocorrendo desde ontem, hoje e certamente amanhã.
A excêntrica fanfarrice ocorre em pleno século 21 e quase 60 anos depois de o homem pisar na lua. O que há de diferente em idolatrar um mito insosso, mas golpista extremado, ou de reeleger alguém que só pensa em si? O que tem de terapêutico nisso? A histeria coletiva em torno desses “bebês” é um sinal explícito de colapso mental, de falência emocional. É um surto psicótico autorizado, estimulado e transformado em modus operandi de um futuro cada vez mais incerto. Politicamente, os brasileiros estiveram bem próximo do caos. Uma pena que esse estado de torpor esteja se generalizando. Como dizia Millôr Fernandes, em pouco tempo perceberemos o quanto já fomos felizes. Vivemos hoje em um mundo em que todo dia é primeiro de abril.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras