Cheguei!!!
Com glitter, sem filtro e com a credibilidade que buscamos por aí
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Sim, eu sou do tipo de pessoa que usa todos os tipos de fantasias, prepara tiara de cabelo colorida, roupa com gliter – se possível do cabelo ao pé – pensa em ombreiras com todas as cores, usa tênis, passa sombras arregaladas, compra óculos de coração e por aí vai… a energia do carnaval me fascina! Não é para menos, nasci no carnaval com os pais pulando no bloco.
Nessa época do ano eu sou mais eu do que todos os meses eu já sou! E esses momentos geram fotos incríveis, porque várias das minhas amigas adoram fazer registros espontâneos de mim e eu adoro! Acho o olhar do outro sobre a gente uma coisa genial, porque não há regra, não há treino, apenas somos e isso é divertido!
Três dias atrás, eu e minha sócia estávamos conversando sobre as fotos e vídeos que precisamos montar para o workshop de fim de ano. Eis que a pergunta que fiz a ela foi “preciso de foto profissional que nem tu. A credibilidade tá como?”
Ela riu e me disse “não posso responder”.
Foi então que eu me vi incorporando qualquer filósofo da atualidade e soltei um “Mas podemos pensar que o óbvio não existe, sendo assim, o óbvio é apenas um ponto de vista, não ideal, buscando convencer pessoas com ideias nada fundadas em ideias infundadas…”
Bom, se você chegou até aqui e não tá entendendo nada, vamos lá.
A questão é que minha foto do Whatsapp sou eu de rabo de cavalo, sombra rosa-choque com pontinhos de luz grudados ao redor dos olhos, cropped branco mostrando a barriga, short jeans e ombreiras coloridas feitas de fitas brilhosas. E eu sou apaixonada nessa imagem, porque ela retrata tudo que eu sou em todos os momentos.
Detesto coisas mortas, detesto cinza, odeio sentir calor na mesma proporção que frio. Então, quando tá quente, eu uso sim pouca roupa. Detesto cabelo arrumado demais, e quando me irrita eu prendo alto, porque refresca a nunca. Eu amo intensamente cores, do tipo que as cadeiras da sala são amarelas.
Então, sim, essa foto me representa. O problema é que ela não passa credibilidade do que sou profissionalmente, porque, em tempos atuais, a gente precisa ter fotos profissionais, precisamos andar de blazer, as roupas são sempre em tons pastéis, e a moda se tornou pouco colorida.
A credibilidade se tornou algo visível nas fotos das redes sociais, que não são mais espontâneas. O conhecimento se comprova pela capa do livro que você posta que leu. Mas leu mesmo?
A sua eficiência se compara e se comprova no tanto de checks que você consegue mostrar para as pessoas que concluiu.
E, sendo assim, eu tenho um total de zero credibilidade com o mundo corporativo, mesmo tendo 3 CNPJ nas costas e haver sido CLT por anos, e eu poderia ficar aqui listando o tanto de coisas que já fiz e já fui no mundo dos negócios.
Sim, somos uma sociedade que se vende o tempo todo, incansavelmente.
A gente se apegou tanto a dizer quem somos e se apresentar com os currículos, cursos e graduações que fizemos, que esquecemos quem somos fora dessa bolha.
Mas quem somos mesmo? Você poderia se apresentar a alguém dizendo apenas que é mãe ou pai de pet, ama verde e come macarrão às quintas-feiras.
A credibilidade que buscamos está sendo construída ao longo do tempo por nossa capacidade genuína, ou apenas pelo que tentamos parecer ser?
Porque, assim, eu poderia perfeitamente fazer fotos profissionais, começar a me vestir com paletas de cores discretas e passar a só falar de conteúdo de livros, crochê, empreendedorismo e liderança. Mas sabe o que é? Não seria eu!
O que nos torna nós mesmos são nossas coisas estranhas, nossos momentos aleatórios e NÃO nossa credibilidade profissional. A gente tem uma vida pra viver, e essa vida não existe um lado profissional e pessoal, somos quem somos, se somos educados, não dá pra ser educado apenas em determinado momento. Quem é que seja assim, boa sorte, deve ser exaustivo ser sempre dois, eu prefiro ser um. Nossa capacidade e credibilidade não deveriam ser medidas pela quantidade de glitter que usamos na cara, pelo tamanho do nosso short jeans, pelas não-listas que fazemos, pela roupa amassada com que a gente sai de casa, ou se chegamos às 2h ou às 6h da manhã.
Deveríamos estar mais preocupados em moldar a nossa credibilidade entregando o que temos de entregar da melhor forma possível, estando de ombreiras ou não.
Portanto, sinto muito, mundo. Aos que são desavisados, continuarei com glitter!
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Thalita por Thalita – Sou muitas, algumas eu já fui, algumas ainda serei, mas, no fundo, sempre mudando. Jornalista por teimosia. Publicitária por conveniência. Empresária por exigência da vida. Crocheteira e escritora por acreditar nos sonhos e por precisar da arte para me expressar e sobreviver. Músicas, livros, linhas, sebos, cafés e cervejas no meio deles, me perco no tempo e me encontro na sensibilidade das pequenas coisas cotidianas. Na pluralidade do que me constitui, elegi o caminho das histórias para sensibilizar quem, assim como muita gente, acredita que a vida se faz rindo e chorando, título do primeiro livro lançado em 2024 pela Editora Autoria.
Instagram: @tha_delgado