Frio inexistente
Como o Nordeste se prepara para chegada do ‘Inverno’
Publicado
em
Quando o calendário aponta para os meses de junho a agosto, o Brasil entra no inverno. No Sul e Sudeste, as temperaturas despencam, o vento gela a pele e os casacos saem dos armários. No Nordeste, porém, o chamado “inverno” é bem diferente. Sem neve, sem geada, e com termômetros que raramente descem dos 20 graus, a estação mais fria do ano assume outra identidade na região: é tempo de chuva, de festas e de umidade no ar.
Para a maioria dos nordestinos, o inverno não significa frio, mas sim o início do período chuvoso. Em estados como Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, a estação é marcada por pancadas regulares de chuva que aliviam o calor intenso do verão e são cruciais para a agricultura e o abastecimento de água.
“No sertão, a chuva é o verdadeiro inverno. Quando ela chega, a vida floresce”, diz Maria das Dores, agricultora em Juazeiro do Norte (CE). “A gente não sente frio, mas sente esperança.”
Apesar da ausência de frio rigoroso, os impactos do “inverno” nordestino exigem preparação. Nas capitais litorâneas como Recife e Salvador, as chuvas intensas causam alagamentos, deslizamentos de encostas e transtornos no trânsito. Prefeituras investem em obras de contenção, drenagem e campanhas de conscientização para evitar desastres.
“Estamos reforçando o monitoramento de áreas de risco e ampliando as equipes de resposta a emergências”, afirma Carla Lima, coordenadora da Defesa Civil de Maceió (AL). “A maior preocupação não é o frio, mas os efeitos das chuvas.”
O calor humano do São João
Enquanto o frio é destaque em outras regiões do Brasil, no Nordeste, o “inverno” é sinônimo de celebração. As festas juninas tomam conta das cidades, com fogueiras, forró, quadrilhas e comidas típicas. Campina Grande (PB) e Caruaru (PE) disputam o título de maior São João do mundo, atraindo milhares de turistas.
“O inverno aqui é quente de outra forma: é o calor humano, a alegria do povo, a tradição que aquece o coração”, resume o músico Zé do Forró, que toca em festas juninas há mais de 20 anos.
Segundo previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o inverno de 2025 deve manter o padrão dos últimos anos: chuvas concentradas no litoral e interior semiárido com precipitação abaixo da média. O fenômeno El Niño, ainda presente, pode afetar o volume das chuvas.
Para os nordestinos, no entanto, a estação é menos sobre meteorologia e mais sobre identidade cultural. “A gente não precisa de frio para sentir o inverno. A gente sente ele no cheiro da terra molhada, no barulho da sanfona e na esperança de um ano melhor”, conclui Maria das Dores.