Salário mínimo
Como viver (e até dar risada) com apenas R$ 1.518,00 por mês
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Dia 5: o Pix cai. Você abre o app do banco com a mesma cara de quem abre presente de Natal da sogra: já sabe o que vem, mas finge surpresa. Lá estão eles: mil quinhentos e dezoito reais brilhando como se fossem um milhão. Você dá um gritinho interno: “Oba, sou quase o Elon Musk… se o Elon Musk usasse chinelo de dedo furado.”
Primeira missão: supermercado. Você entra parecendo agente secreto: cabelo solto óculos escuros (de grau quebrado) e carrinho pequeno pra ninguém perceber a operação “sobrevivência”. Lista na cabeça: arroz (o mais barato que não tiver bicho), feijão (carioca, porque o preto agora é artigo de luxo), ovo (trinta ovos = quinze bifes na matemática da fome). Carne? Só se o açougueiro estiver de bom humor e jogar um ossinho “pra dar gosto”. Você agradece como se fosse filé mignon.
No corredor dos produtos de limpeza você faz malabarismo: sabão em pó de 5 kg ou amaciante que deixa a roupa cheirando a sonho? Escolhe o sabão, óbvio. Amaciante é pra quem tem roupa sobrando.
Caixa. A moça passa tudo: R$ 378,90. Você olha o saldo, olha pra ela, olha pro céu e fala com voz de quem perdeu tudo na bolsa: “Tira o Danoninho, pelo amor de Deus”. Ela tira. R$ 364,20. Você sai suada, mas vitoriosa. Medalha de ouro em ginástica olímpica de pobre.
Transporte? Andar a pé virou meu personal trainer gratuito. São 5 km até o trampo. Perco 2 kg por mês e ainda economizo R$ 260 de ônibus. Quando chove eu corro parecendo galinha assustada, chego ensopada, mas com a consciência ecológica lá em cima: “Tô ajudando o planeta, tá?”
Luz e gás são tratados como inimigos de filme de terror. Tomo banho no escuro pra economizar lâmpada (já sei a posição exata do chuveiro só pelo tato). Cozinho tudo no domingo: panela de arroz, panela de feijão, panela de macarrão e uma frigideira que faz milagre. Na quarta já tá tudo parecendo ensopado, mas coloco orégano e chamo de “cozinha fusion”.
Internet? Wi-Fi do vizinho. Senha continua “jesus123” desde 2021. Todo mundo finge que não sabe que todo mundo sabe.
Lazer de luxo é ver o pôr do sol na laje com um copo de café ralo e falar mal do governo com os amigos. Namoro? Piquenique no parque com pão com ovo e refrigerante de garrafa de 2 litros. Ainda acham fofo, eu chamar de “data gourmet low cost”.
Dia 28 o saldo tá R$ 11,47. Você olha e pensa: “Dá pra comprar um pastel na feira e ainda sobra pro ônibus de volta… não, pera, eu ando a pé mesmo.” Aí ri sozinha no ponto de ônibus vazio, porque rir é de graça.
Quando o mês vira e o Pix cai de novo, você suspira aliviada: “Ufa, mais trinta dias de malabarismo.” Pega o celular, abre o app e já vai planejando o próximo round.
Porque, olha, com R$ 1.518,00 a gente não vive. A gente faz arte.