O ciclo da vida
Comparações à parte, nunca sabemos o que nos espera pela frente
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A vida é feita de encontros e despedidas. Isso é fato. Encontros são casuais, ao menos os primeiros. Você está caminhando tranquilamente pelas sendas da vida e tromba com alguém, que nunca tinha visto antes. Conversam, trocam ideias e descobrem ter muitas coisas em comum… continuam a se cruzar pelos caminhos que trilham, algumas vezes de propósito, outras por pura coincidência. Alguns encontros nos marcam de tal forma que a pessoa continua presente em nossa vida por muito tempo, mesmo depois que o mundo nos faz seguir destinos diferentes…
Nem sempre sabemos quando alguém sairá de nossa vida. Na maioria das vezes é um ato silencioso, determinado pelas Moiras, para que a pessoa cumpra seu propósito nesse plano. O agente em questão nem percebe que seus passos estão sendo guiados para um novo destino, e por esse motivo não há despedidas entre aqueles que lhes são caros. Porque esse afastamento ocorre lentamente, sem uma explicação lógica. Simplesmente acontece…
A primeira separação sem despedidas em nossas vidas ocorre ainda em nossa infância. Estamos nós, crianças, todas reunidas compartilhando nossos sonhos, participando dos folguedos e, sem mais nem menos, um a um dos componentes do grupo vai se afastando. É uma ação tão discreta que nem nos damos conta, até que num belo dia estamos com uma pasta na mão, seguindo para o trabalho, longe daqueles que por algum tempo estiveram ao nosso lado, ombro a ombro, realizando descobertas que nos acompanharão por toda nossa vida…
A infância é a nossa fase mais rica, tanto em relacionamentos quanto em descobertas. Esses relacionamentos são os mais sinceros, porque ainda não aprendemos a arte da manipulação… e nem necessitamos desta, pois o mundo nos parece mágico da forma em que se apresenta. Quando gostamos de alguém, gostamos realmente. E se houver alguma desavença, resolvemos da maneira que acharmos melhor… crianças não são pacíficas por natureza, são domadas pelos adultos aos poucos… mas enquanto isso não acontece, em caso de discórdia, quem pode mais, chora menos… o diferencial entre uma criança e um adulto é que, passado o momento de acerto de contas, tudo volta ao normal. O que passou, passou. Criança não guarda mágoa nem rancor. Esses sentimentos serão adquiridos com o correr do tempo, quando a inocência infantil for esmagada pelos deveres de adulto…
Mas estava falando de encontros, não de desavenças… quando ainda pequenos, temos nossa turma favorita de brincadeiras. Nos reunimos religiosamente todos os dias e, enquanto as obrigações não nos são impostas, permanecemos unidos, desbravando o mundo da imaginação. As mais velhas (mas nem tanto assim) que já frequentam a escola, nos trazem suas descobertas, que irão deixar nossas brincadeiras ainda mais interessantes. E a parte mais incrível para essas crianças é que não há necessidade de coisas muito elaboradas para que elas se divirtam… a própria Natureza é um imenso playground…
Claro que não posso comparar minha infância com a das crianças de hoje… afinal, estou chegando à casa dos setenta, e muita coisa mudou nessas décadas que se passaram. O mundo se transformou de tal forma que se uma pessoa que partiu desse plano quando eu ainda era criança de repente ressuscitasse nessa nossa era, com certeza ficaria espantado com o mundo novo no qual vivemos. Claro, não temos carro voador nem teletransporte, mas ainda assim as inovações tecnológicas o fariam sentir-se dentro de um filme de ficção científica…
Ainda assim, as crianças tiram o melhor daquilo que lhes é apresentado para mergulharem no mundo utópico da imaginação. São todas Alices desbravando o País das Maravilhas, sendo que nem tudo é assim tão maravilhoso aos olhos dos adultos… a Rainha de Copas ainda é quem dá as cartas…
Bem, assim é a vida. Nunca sabemos quando é última vez que conversamos com alguém nessa vida. Tanto pode ser uma conversa pacífica quanto um desentendimento… até mesmo uma briga, onde ofensas podem ser proferidas…
O que sabemos, com certeza, é que um belo dia passamos a nos lembrar de determinado evento e sem mais nem menos nos vem uma perguntinha marota, para a qual geralmente não temo resposta… ”o que será que aconteceu com Fulano? Por onde andará? Ainda vive ou já partiu desse plano?” E a incerteza nos assalta por algum tempo, até que recolhemos essa recordação entre os milhares de outras que ficarão sem resposta… mas essa é a vida… encontros e desencontros fazem parte de nosso destino… e, com certeza, em algum momento, alguém se fará a mesma pergunta a respeito de nós…