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Sem argumentos

Congressistas submissos ao mito preferem viver com incontinência verbal

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Misael Igreja - Foto de Arquivo

Cada vez mais ausente do dia a dia da política e da vida do brasileiro, um bom debate é, além de esclarecedor, sempre engrandecedor para os debatedores. O problema tem sido encontrá-los. Nada melhor do que debater com os mais sábios temas cotidianos, mas com níveis de subjetividade bem acima do normal. Por exemplo, as dores do mundo. Embora todas sejam um aprendizado, algumas o tempo não cura. Dizem que a dor da alma é a pior delas, bem maior do que a do parto, a do chute nas partes pudendas do homem e a do amor.

Nada, porém, é tão nocivo como as dores da ignorância, da tolice e do fanatismo. Sabidamente, elas não têm vínculo algum com a inteligência, muito menos com a cultura. Parafraseando o filósofo alemão Arthur Schopenhauer, quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa lhe parece a existência. Conforme Schopenhauer, diferente da sabedoria, a capacidade é como a riqueza. Ambas nos influenciam como a água dos rios. Quanto mais bebemos, mais sede temos.

Didaticamente, as pessoas comuns pensam apenas em como passar o tempo. Uma pessoa inteligente tenta usar o tempo. É como fazem os cidadãos que se acham deuses. Não é regra, mas normalmente a exceção são aqueles que jamais pensaram em representar ninguém. Não errou quem lembrou dos políticos como incluídos na lista das regras. Para esses tipos, a felicidade depende mais do que se tem nos bolsos. Hoje, com raras exceções, são os que preferem o insulto e a incontinência verbal ao argumento.

Avessos às dores do mundo, notadamente às do povo brasileiro, quase dois terços do atual Congresso Nacional trabalham incansavelmente sob as ordens de um pseudo líder, cuja sabedoria é próxima de zero à esquerda e menos zero à direita. Eis a razão pela qual os liderados agem como gado. Um dia sim e outro também, a única alegria do rebanho é quando o lobo anuncia aos berros que vai comer a ovelha que ocupou seu cercadinho verde e amarelo. Grita, grita, mas acaba chorando com medo do cercadão que o aguarda.

A submissão de parte da Câmara e do Senado aos caprichos de um ex-presidente de retórica, ações e propostas ultrapassadas deixa claro que, subservientes às idiotices de Jair Bolsonaro, os parlamentares da base aliada mais parecem bobos da corte. Alguns menos expressivos, mas exagerados no puxa-saquismo, lembram almas penadas no purgatório. Os deputados e senadores que vestirem a carapuça – e são muitos – viverão mais 100 0u 200 anos e não perceberão que tudo é efêmero, inclusive o mandato e a própria vida.

Não devemos lutar contra a opinião de ninguém, tampouco tentar dissuadir alguém a respeito dos absurdos em que acredita. Se fizermos isso, certamente chegaremos ao próximo século com a tarefa inconclusa. Portanto, mesmo sem debates, é melhor permitir que os que agem como abutres cisquem para dentro. O que satisfaz à alma e à mente é a certeza do mal que evitamos graças ao resultado das urnas em 2022, principalmente por causa do fracasso do golpe de 8 de janeiro de 2023. Tivesse ocorrido a ruptura democrática, Alexandre de Moraes e Luiz Inácio estariam mortos e os brasileiros condenados à mediocridade política, administrativa e humana. Os senadores que ofenderam e agrediram simbolicamente a ministra Marina Silva são a prova disso.

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Misael Igreja é analista de Notibras para assuntos políticos, econômicos e sociais

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