Disputa pelo poder
Congresso de Alcolumbre e Motta opera na contramão da sociedade brasileira
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Nascido para viver e lutar por dias melhores, penso com meus botões que, além da convicção da morte, nada está tão claro como a certeza de que tudo o que na vida se passou comigo já passou. O que ainda está por vir, virá. Por isso, mesmo tendo meus celulares espionados pela Abin do mito, permaneço fissurado na mistura perfeita entre a democracia e as liberdades, entre o amor e a paz, entre a tolerância e a concórdia. Monstros de mil faces, a tirania, a hipocrisia e o extremismo alimentam-se de sangue, lágrimas, ódio e rapina.
É o modus operandi do Congresso de Davi Alcolumbre (PP-AP) e de Hugo Motta (Republicanos-PB). Custe o que custar e duela a quien duela, a ordem é operar na contramão do governo e da sociedade. Normalmente em nome do Pai, os conflitos sem fim envolvendo autoridades ou povos vizinhos são sinônimos de um primitivismo que o mundo imaginou tivesse ficado na pré-história. Por exemplo, vivi para ver um presidente da Câmara dos Deputados manobrar de frente e de ré, além de rezar a Deus e ao Diabo, para aprovar um projeto de lei visando ao fortalecimento do crime organizado.
Em minha insana consciência, jurava que o almofadinha Hugo Motta tinha sido eleito justamente para o enfraquecimento da bandidagem. Custei a me lembrar que nem todos os deputados e senadores são santos. Na verdade, pouquíssimos são. O mais trágico e desprezível foi perceber que, por razões óbvias, Motta e sua tropa de elite fugiram do enfrentamento do crime e não se preocuparam sequer em disfarçar o boicote à proposta do governo federal. Fizeram pior na semana passada, quando, tentando ser mais poderoso do que o rei, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, conduziu a derrubada dos vetos presidenciais ao licenciamento ambiental.
Alcolumbre talvez jamais perceba que, na medição de força com Luiz Inácio, ele também puniu severamente a sociedade brasileira. É a disputa mais mesquinha e tacanha pelo poder. Provavelmente Motta e Alcolumbre ganhem votos dos comandantes das facções criminosas (algumas representadas nos legislativos espalhados pelo Brasil), do agronegócio, dos madeireiros e garimpeiros ilegais e dos militantes do negacionismo ambiental.
Entretanto, certamente perderão a dignidade e o respeito perante os eleitores que ainda dispõem de alguma consciência cívico-eleitoral. Nada que assuste a ambos e os que acreditam que, quanto mais miséria e sofrimento, melhor para garantir poder. Pelo andar da carruagem, não há qualquer chance de o bolsonarismo ressurgir das cinzas e impedir uma nova reeleição de Lula da Silva, a quarta de sua histórica e rica vida presidencial.
Todavia, a se confirmar a preocupante e arrepiante perspectiva de que, em 2026, o clã Bolsonaro tem a chance de eleger mais dois senadores, estará eternizada a tese de que cada povo merece os representantes que tem. Nunca na história deste país, uma família despreparada e faminta pelo poder chegou tão longe por exclusiva culpa do eleitor desavisado
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978