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Barra de São Miguel

Coqueiro na praia faz inveja à macieira do Paraíso

Publicado

Autor/Imagem:
José Seabra - Foto Acervo Pessoal

Barra de São Miguel, litoral Sul de Alagoas. Aqui, hóspede do casal Marcos e Betânia (oferecido, fiz-me caseiro, para desfrutar mais tempo do paraíso) mantenho a rotina de acordar com os galos, mesmo que não os ouça como em outras plagas. No Céu, como vagalumes antes da luz do luar, as estrelas vão perdendo seu brilho, ofuscadas pelos raios do Sol que surge no horizonte. Levanto-me e, olhando para a vastidão do mar, transporto-me para Náufrago (depois da queda do avião) onde Tom Chuck Noland Hanks tem em Wilson, uma bola de vôlei, seu único amigo.

Mas, que me perdoe a bola que tem a rede por destino num saque errado, meu amigo Coqueiro é mais resplandecente, literalmente mais altivo. E tenho com o Pai dos Cocos uma interação quase diária. Bem antes das cinco já temos a promessa de sol radiante. A praia se estende como um tapete dourado, onde as ondas dançam uma coreografia perfeita. O céu azul se encontra com o horizonte distante, lá pelas bandas de Trás-os-Montes, criando uma paleta de cores que pinta a paisagem com uma beleza indescritível.

É justamente no centro desse cenário paradisíaco, que se ergue majestoso o Coqueiro, testemunha silenciosa do vai e vem do tempo.

A brisa marinha parece sussurrar segredos aos seus ramos; e suas folhas verde-esmeralda balançam suavemente. Sob sua copa, o chão de areia branca se torna um convite para os descalços, enquanto o astro-rei projeta sombras dançantes que brincam de esconde-esconde entre o coqueiral brotado dos frutos do velho Coqueiro.

‘Meu’ Coqueiro, posto que dele apoderei-me, mesmo que à sua revelia, parece guardar histórias de gerações passadas, como se cada folha contasse uma narrativa diferente. Talvez tivesse testemunhado o amor efêmero de um verão, ou quem sabe fosse confidente de sonhos traçados na areia. Entre suas raízes, pequenos tesouros eram enterrados pelas crianças nativas, esperando que ele os guardasse como um fiel guardião.

Ao dele aproximar-se, pode-se sentir a textura áspera do tronco, marcado pelo tempo e pelas intempéries. As palmas se estendem para o céu, como mãos que, em um gesto de prece, agradecem pela vida que flui em sua seiva. Com seus cocos pendurados como frutos do paraíso, parece oferecer uma dádiva aos que se aventuram a buscá-los.

Embaixo dele, as pessoas encontram abrigo e descanso. Um idoso lê um livro, embalado pela brisa marinha, enquanto um casal apaixonado troca juras de amor. Crianças constroem castelos de areia ao redor do tronco robusto, dando vida a sonhos que só a inocência da infância poderia criar.

Como um velho guerreiro, o Coqueiro, firme e imponente, tornou-se um símbolo de resistência. Sobreviveu a tempestades ferozes e testemunhou o ciclo incessante das marés. Suas folhas, que sussurram melodias ao vento, são como páginas de um livro aberto, contando a história de um lugar onde o tempo parece desacelerar.

Ao entardecer, quando o sol se despede no horizonte, Coqueiro transforma-se em uma silhueta contra o céu alaranjado. Seu papel naquela paisagem não é apenas físico; é espiritual. É o cofre das memórias, o confidente das esperanças e o símbolo de uma praia que, com o passar dos anos, mantem-se como um refúgio intemporal, marcado por sua presença imortal à beira-mar.

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