Sem luxo, com laço
Coração de mãe nordestina tem terra vermelha
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No Nordeste, o Dia das Mães que se aproxima não é só data no calendário: é quase um feriado de alma. Já no sábado, o cheiro de bolo de milho e café torrado começa a subir pelas frestas das janelas de madeira. As casas se enchem de gente que vem de longe — filhos, netos, afilhados — tudo misturado, feito feijoada boa. Porque por lá, mãe é raiz e galho, tronco e flor.
No sertão, não tem luxo, mas tem laço. O presente pode ser simples — um pano de prato bordado, uma sandália nova comprada na feira de sábado, ou uma flor colhida do quintal. Mas o que importa mesmo é o abraço apertado, o cheiro do pescoço da mãe, e aquele almoço com galinha de capoeira que parece cozida no tempo, de tão demorado e saboroso.
Tem missa pela manhã, pra agradecer, e tem mesa grande ao meio-dia, pra reunir. Uma mesa com farinha espalhada, carne de sol, arroz branco e sorriso aberto. E claro, sempre tem uma história repetida — da vez que a mãe carregou água na cabeça pra lavar roupa ou como ela “criou seis com feijão e fé”.
Dia das Mães no Nordeste é celebração de resistência. É um dia em que a terra quente parece amaciar debaixo dos pés, só pra que os filhos voltem. É o som do rádio tocando Luiz Gonzaga, é rede balançando no alpendre e criança correndo no terreiro.
Porque no Nordeste, o amor de mãe tem cheiro de terra molhada, gosto de cuscuz quente e o poder de fazer o tempo parar — pelo menos por um dia.