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Costura de Geisel para fazer de Figueiredo sucessor saiu sem muito choro ou velas

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José Escarlate

Ao final do seu governo, Ernesto Geisel teve que enfrentar um dos mais difíceis problemas de sua gestão para a promoção do General-de-Divisão João Baptista de Oliveira Figueiredo ao último posto da carreira. As quatro estrelas de General-de-Exército. Foi um longo exercício de persistência, de engenharia militar, para encontrar as brechas possivelmente existentes no rígido Almanaque do Exército, no que diz respeito a promoção de oficiais-generais.

Havia apenas uma vaga para general-de-Exército. Pela norma, o Alto Comando se reúne, coloca os generais-de-divisão em ordem de antigüidade e seleciona três. Hugo Abreu e Figueiredo, generais de Brigada, estavam agregados. O primeiro, chefe do Gabinete Militar, e o segundo, do SNI. Deixando o Gabinete Militar e com a reversão, o general Hugo Abreu passou a ser o número três e Valter Pires, o quatro, ficando Ernani Airosa na posição cinco. Figueiredo continuou “agregado” e Ferraz da Rocha, passou à posição seis.

Segundo explicou o general Gustavo de Moraes Rego Reis, que era atencioso com os repórteres que cobriam a presidência da República, a solução adotada para a abertura de mais uma vaga de general-de-Exército foi absolutamente legal: a agregação do general Calderari, nomeando-o presidente da Imbel, o que não causou surpresa em Brasília, o que já era cogitado.

Dia 28 de março de 1978, o ministro do Exército submeteu ao presidente os nomes dos generais-de-divisão combatentesque fora feita pelo Alto Comando, para a promoção em 31 de março de 1978: 1 – João Batista de Oliveira Figueiredo 2 – Antonio Carlos de Andrada Serpa 3 – Hugo de Andrade Abreu 4 – Valter Pires de Carvalho e Albuquerque 5 – Ernani Airosa da Silva 6 – José Ferraz da Rocha. Na lista, era observado que: (1) O general-de-divisão João Batista de Oliveira Figueiredo, agregado, caso venha a ser promovido, não ocupa vaga, nos termos do parágrafo 4º do artigo 20 da lei nº 5821/72; (2) O general José Ferraz da Rocha só será considerado se o general-de-divisão João Batista de Oliveira Figueiredo for promovido e permanecer agregado.

Com isso, o presidente Geisel, por uso da atribuição legal de livre escolha promoveu o general Figueiredo mantendo-o agregado no cargo de ministro de Estado chefe do SNI, promovendo ainda mais dois: os generais Andrada Serpa e Valter Pires.

Como era esperado, o general Hugo Abreu foi preterido na promoção. Ressentimentos à parte, em seus dez anos de general, Hugo Abreu sabia que na promoção a general-de-Exército há um inarredável componente de política militar. Sempre foi assim.

Pesaram na decisão o clima de grave desentendimento pessoal gerado pela escolha de Figueiredo para a presidência. Segundo o general Moraes Rego, foi medida técnica e politicamente acertada.

No dia 31 de março, antes de ser divulgada a lista de promoções nas Forças Armadas, escrupuloso, Geisel mandou Moraes Rego chamar o general Ernani Airosa. Queria explicar a ele a razão pela qual Figueiredo seria promovido. “Não precisa, presidente” – disse Airosa. Mas Geisel insistiu: “Você é general, o Figueiredo vai ser presidente da República, você é o número um agora. Você não foi preterido, porque ele vai passar para a reserva e vai embora.” E embarcaram juntos no carro presidencial para o tradicional almoço com que os oficiais-generais homenageiam o presidente da República.

Figueiredo foi promovido a general-de-Exército no dia 31de março. Uma semana depois, seu nome era homologado como candidato oficial do partido, pela Convenção Nacional da Arena. Dia 15 de junho ele deixava a chefia do SNI, transferindo o cargo para o general Otávio Medeiros.

Sempre acompanhado do ex-presidente da Embratur, Said Farhat, que cuidaria de sua imagem, de sua campanha, Figueiredo mudou-se com armas e bagagens para o núcleo central de sua campanha, no 11º. andar do Hotel Aracoara, no Setor Hoteleiro Norte, de Brasília. A montagem das instalações foi toda orientada por Farhat, o futuro homem de imprensa e de relações públicas do futuro presidente. Parecia ser o homem forte do novo governo.

Metade dos jornalistas que faziam a cobertura diária do Palácio do Planalto foi para o Aracoara, aos quais se juntaram novos repórteres. Figueiredo estava de bom humor. Mais risonho ainda, por ter feito os 13 pontos na loteria esportiva, que jogava habitualmente. Mas o prêmio foi apenas um “pixuleco”, nada de encher os olhos.

A partir daí, reuniões seguidas com membros de sua equipe, entre eles o general Danilo Venturini e o coronel Armando Malan de Paiva Chaves, que formavam no staff de de Figueiredo. Ao final do governo, permaneceu em Brasília, onde comprou uma chácara, dedicando-se à agricultura no cinturão verde da cidade. Em 31 de dezembro de 1978, Geisel tomou mais uma medida na direção da redemocratização: extinguiu o AI-5 (Ato Institucional nº 5). João Batista de Oliveira Figueiredo foi então indicado, eleito e, finalmente, empossado presidente do Brasil, em 15 de março de 1979.

PV

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