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Crendice a parte, folha de arruda está sendo usada para combater a dengue e a zika

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Constança Rezende

Com medo de perder a clientela e não afastar estrangeiros assustados com o surto da dengue e zika, o guia turístico de favelas Paulo César Martins, conhecido como Amendoim, adotou um procedimento que, afirma, afasta o mosquito Aedes aegypti. A primeira etapa do roteiro de visitas que promove inclui a colocação de galhos de arrudas nas orelhas, dentro de bolsos e meias dos visitantes.

Nas favelas cariocas, o saneamento e a coleta de lixo costumam ser precários, o que facilita a formação de criadouros do inseto transmissor do zika e da dengue. A crendice popular assegura que arruda é uma planta que afasta o mau olhado e o azar. Amendoim, que cobra R$ 75 reais por turista, avisa em inglês, italiano, francês e espanhol, antes do início do passeio, que a arruda também afasta o mosquito.

Os italianos Silvia Di Giorgio e Andrea Carlet, de 26 e 39 anos, obedeceram ao guia e circularam na manhã desta quinta, 18, pela favela da Rocinha, em São Conrado, zona sul, com galhos de arrudas no corpo. No caminho, moradores pegavam com Amendoim os galhos que sobraram, para também pendurá-los na orelha. Em sua página no Facebook, o guia exibe fotografias com e estrangeiros com a planta e a seguinte legenda: “Esses turistas estão livre do vírus da zika, arruda neles! É o melhor remédio, venha você também”. Amendoim é ex-participante do programa No Limite, exibido na TV Globo em 2000.

Outros guias que costumam promover tours na Rocinha afirmam que não tomaram providências para proteger os clientes contra o Aedes nem os advertem para a necessidade de usar repelentes. Luiz Henrique Shulze, que nesta quinta, 18, liderava um grupo de oito franceses na favela, explicou a razão de omitir o problema dos clientes: “Não temos as informações necessárias para passar para eles. Cada hora, uma instituição fornece um dado diferente. Mas, quando perguntam algo sobre a dengue, eu respondo e os tranquilizo. Duas pessoas já me perguntaram”, disse.

O juiz aposentado francês Jean Marrie, de 67 anos, não reclamou da falta de informação. “Sei de todos os riscos. Passei repelente antes de vir. A França tem ilhas no Caribe que tiveram problemas com a dengue, já vimos isso”, disse. O francês afirmou que desconhece quais os locais com mais incidência de dengue no Rio. “O que faço é evitar visitar locais de pântano”, acrescentou.

Empregados das vans que levam turistas ao Cristo Redentor disseram que o uso de repelentes tem sido muito comum. São tantos os turistas com repelentes que as vans ficam com o cheiro dos produtos, contaram. Um dos passageiros, o italiano Nicola De Togni, de 37 anos, preferiu trazer um repelente da Europa. “O Cristo fica perto de uma floresta, que atrai muitos mosquitos. Não sei se tem dengue lá, mas, na dúvida, achei melhor passar”, afirmou.

O casal Paola Gomes e Jonatan Barquez, de 26 e 25 anos, passava repelente na fila do trem para o Corcovado, pela manhã. “Não é uma doença distante da gente. Já tivemos dois casos na Argentina Grávida, não viria de jeito nenhum” admitiu a estudante.

O presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio, Alberto Chebabo, disse que não há fundamento científico no uso de arruda contra o mosquito. “Nunca ouvi falar que a arruda sirva para isso. Nem andar com citronela, andiroba, cravo da índia. Os óleos destas plantas só têm efeito de 15 a 20 minutos, e não são 100% eficazes. Comparado com outros pernilongos, o mosquito da dengue é o que tem mais resistência a essas substâncias”, disse.

estadao

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