Gastronomia nordestina
Cuscuz ao mandacaru, a essência que não morre no sertão
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No sertão, o sol nasce com força, abrindo caminho entre os mandacarus que se erguem altivos como sentinelas da terra seca. O calor vem cedo, e com ele o cheiro do café coado, do fogo aceso e do cuscuz amarelinho saindo do cuscuzeiro. É ali, na simplicidade da mesa de barro ou madeira, que a vida se renova todos os dias.
O cuscuz, mistura de milho e memória, é mais que alimento: é símbolo de resistência. Cada grão carrega o gosto da roça, da enxada, da chuva esperada e das conversas de fim de tarde. É o retrato do sertanejo, que, mesmo diante da escassez, encontra jeito de transformar o pouco em festa, o simples em sagrado.
Enquanto o mandacaru floresce no meio da aridez, mostrando que a vida insiste, o cuscuz fumegante no prato é prova de que a alma do sertão também não se rende. Ali, entre o sal do suor e o cheiro do café, está a essência de um povo que aprendeu a fazer poesia com o que tem — e amor com o que sobra.
O sertão pode até mudar, ganhar estrada, energia e internet, mas o cuscuz ao lado do mandacaru continua firme, guardando a tradição de um tempo que não morre. Porque no sertão, essência não se perde: se cozinha, se serve e se partilha.