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Retrovisor político

Da República ao golpismo, só três presidentes se reelegeram no Brasil

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso - Foto de Arquivo

Diz o ditado que nenhum homem deve ser venerado, visto como um Deus. Concordo, mas, olhando pelo retrovisor, dois presidentes do Brasil, entre as 39 presidências desde a Proclamação da República, em novembro de 1935, jamais serão esquecidos. Getúlio Vargas, o Pai dos Pobres, e Juscelino Kubitschek, o Presidente Bossa Nova, ainda hoje habitam o imaginário dos brasileiros mais velhos. Lembranças remotas, mas que não se apagam. Desde a redemocratização, em 1985, o Brasil teve nove presidentes de perfis, tipos, marcas e modelos variados. Um morreu sem a faixa. Desses, somente três tiveram êxito na empreitada da reeleição. Um deles chegou lá três vezes.

Dois sentiram na pele as dores do impeachment, invenção contemporânea da política que alivia, acalma e dilacera corações. Gente boa, o primeiro dos nove chegou “como quem vem do florista. Trouxe um bicho de pelúcia”, mas morreu na praia e até hoje vive tentando apagar o fogo de seus marimbondos. Talvez a culpa não tenha sido só dele. Decano dos ex-presidentes vivos, não surgiu do nada, mas pegou o barco cheio de rachaduras. Por essa razão, apesar das viagens e das vantagens que ele tinha, nadou, nadou e naufragou. Na época, mesmo desencontrado, o povo estava bem armado e, assustado, lhe disse não. O segundo escondeu o passado, mostrou o relógio de ouro, o broche de ametista e acabou cassado pelas próprias mãos sem calos dos marajás incansáveis (?).

Experimentou do veneno que havia sugerido antes de ser eleito. De nada adiantou ter na retaguarda uma czarina que enganou meio mundo dizendo que entendia tudo de economia. Perdemos a razão, a emoção e o dinheiro. Simpático, bonachão, franco e topetudo, o terceiro não negava nada a ninguém. Arranhou corações femininos e acabou ferido por uma barata cascuda em um desfile de carnaval. Sofreu, mas foi honesto ao recuperar o Fusca e tornar clara sua aversão à direção de Brasília. Embora ainda não existissem efetivamente, os “memes” virtuais viraram moda nos blocos carnavalescos da Capital da República. Como a Teresinha de Chico Buarque, sofreu calado, mas se quedou defronte ao prédio que o fez popular e imortal: o Palácio da Liberdade, sede do governo de Minhas Gerais.

O terceiro já estava aboletado na Presidência. Ou seja, conhecia todas as gavetas do Palácio do Planalto. Ninguém entendia o que ele queria, mas, pós-graduado na política do agrado aos perdidos, transformou em Real o que já estava semi-pronto, gastou fortunas na proposta de reeleição e se instalou como um posseiro no coração de milhões de brasileiros, inclusive no meu. Foi o primeiro a conquistar o segundo mandato. Fez o que pode, mas degenerou-se. Após competir, competir e competir, o quarto chegou “como quem chega do bar”. “Trouxe um litro de aguardente”, incomodou (e incomoda) a elite mal-mada, agradou lordes e rainhas ao redor do mundo e é recordista em eleições.

Gostem ou não, o malvadão Tik-Tok de Garanhuns já está na terceira encarnação. Perdão pelo trocadalho, mas, se não morrer antes, alcança a quarta vida. Primeira e única mulher na Presidência desde o Império, a que atendia pelos codinomes de Vanda e Iolanda (em homenagem à mulher do então presidente Costa e Silva), foi a sétima no pedaço presidencial. Se reelegeu, mas maculou o vernáculo e terminou como o caçador de marajás. Perdeu o lojinha para um libanês travestido de paulista, que chegou ao Planalto sem ser eleito diretamente para o cargo. Em outras palavras, ganhou sem ter voto algum. Preso, solto, escafedeu-se. Sumiu na poeira do Deserto de Saara

Sorrateiro e muito amargo de tragar, o oitavo chegou e saiu sem nada perguntar. Negou tudo, não apresentou nada, não trouxe nada e nada entregou. Em síntese, foi um nada, algo como uma lenda, um mito do tipo Curupira, Boitatá e Lobisomem. Mentiu, perdeu as medalhas de oficial, espalhou o estrume da boiada por todo o país, chafurdou na lama do golpismo, armou seus seguidores, encheu-se de joias das Arábias, se imaginou um rei, orou com falsos profetas e, assim como diz aos traidores e vendilhões da pátria, o povo unido também lhe disse não. Se não for aquele que já é, que o próximo pelo menos saiba onde e em quem está pisando.

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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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