Lembrando Nietzsche
Das voltas e dobras do tempo para que o fruto não apodreça
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“Tudo é precioso para aquele que foi, por algum tempo, privado de tudo”. (Friedrich Nietzsche, filósofo)
1.
A precisão dos números marca o tempo das máquinas e dos homens. O tempo do amor se marca com o corpo.
Um calendário é coisa precisa: anos, meses, dias, horas, que são marcados com números ao longo das estações.
Esses números medem o tempo material. Mas os pedaços de tempo são bolsos vazios: nada há dentro deles.
O relógio é o tempo do dever: corpo e mente engaiolados.
O bolso vazio do tempo se torna parte do nosso corpo imaterial quando o enchemos com vida. Aí o tempo não mais pode ser representado apenas por números.
O tempo aparece como um fruto que vai sendo comido; é belo, colorido, perfumado.
É mágico.
E, ao mesmo instante em que vai sendo devorado, o tempo também vai nos consumindo de forma inevitável.
E virá o descanso.
O tempo dos homens se marca também por ciclos.
Há inícios, meios e fins.
2.
Viver acordos, arranjos com o tempo, talvez seja uma boa fórmula para não enlouquecer e perecer na ilusão de que poderemos transcender. Não. O tempo é o poder.
(*Tempus fugit; o tempo foge)
3.
O sábio é um degustador da vida: um delicado banquete para ser saboreado.
(*Carpe diem: colha o dia como um fruto que amanhã estará podre)
4.
Desconfio que para nós/adultos, o tempo é um velho, cada vez mais velho e de quem a vida foge.
Os gregos antigos, ao contrário, diziam que o tempo é criança e tem início permanente, movimento circular e o fim que volta sempre ao começo.
Ficam os buracos do tempo, os sulcos de lembranças alegres, a infância, as praças, as memórias, outras crianças.
Suco de vivências. Néctar de imaginações. Pegadas na areia.
Mergulho cego na ampulheta.