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Tese mentirosa

De mito a réu, Bolsonaro em breve verá o futuro de um muro intransponível

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Autor/Imagem:
Armando Cardoso - Foto Editoria de Artes/IA

Acostumado a tudo para não se envolver em conflitos ou ficar bem com os lados A e B, o povo brasileiro é capaz de chupar gelo para matar a fome, de afirmar que o chifre é apenas um “monumento” que colocaram em sua cabeça e que democracia e tirania têm direções e objetivos diferentes, mas são a mesma coisa. Tudo em nome de uma indefinição calculada e, às vezes, temporária ou definitivamente comprada. Podemos chamar esse posicionamento de negacionismo assumido, de irresponsabilidade política ou de não aceitação do óbvio ululante.

Como democrata convicto, mas consciente da necessidade humana de ocultar e de confessar suas deficiências de caráter, prefiro definir os que abdicam da brasilidade como patriotas intangíveis, etéreos, voláteis e, em alguns casos, similares aos caramujos. Viver ou não viver, eis a questão! Em resumo, não viver é se esconder. É como avalio os golpistas e os simpatizantes do golpe articulado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para se perpetuar no poder por meio da força.

Para eles, o levante imaginado por Bolsonaro não passou de uma brincadeirinha de capitão, coronéis, generais e agentes da Polícia Federal desacostumados às leis. Apesar de todas as evidências, os chamados bolsominions preferem morrer de impaludismo a aceitar a tese majoritária de que a ruptura democrática só não ocorreu porque o Brasil não permitiu. Talvez se achem diferenciados – e são -, porque, para eles, a principal mentira é a que contam para si mesmos.

E de mentira em mentira, consolidaram a mentirosa tese de que Luiz Inácio é o diabo travestido de presidente da República. Pode ser, mas qual a diferença entre Lula e Bolsonaro? Lula perdeu democraticamente as eleições presidenciais de 1989 para Fernando Collor e as de 1994 e de 1998 para Fernando Henrique Cardoso. Sem esperneios, arroubos tirânicos ou ataques histéricos, teve paciência e venceu as de 2004, 2006 e 2022. Por enquanto, é o candidato a ser derrotado em 2026. Sejamos analfabetos políticos, cegos, surdos, leigos e até mesmo parcimoniosamente maria vai com as outras.

Só não devemos ser inocentes úteis, algo como ingênuos por necessidade, tolos por conveniência, ignorantes por fanatismo, mentirosos sem provas ou obtusos por convicção. Mentir que não houve golpe é sinônimo de estímulo ao surgimento de golpistas menos estabanados, consequentemente mais nocivos à sociedade do que foi Bolsonaro. Político do baixíssimo clero, se imaginar uma marca foi seu grande erro. Eleito presidente em um momento de vácuo político, o ex-presidente se aproveitou de um imaginário coletivo para fundamentar uma imagem fictícia e muito distante de sua realidade. O resultado não poderia ser outro: de mito a réu após um único mandato. Em breve, ele estará apto a ver o futuro por cima de um muro.

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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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